sábado, 30 de julho de 2016

CERRADO BRASILEIRO: DA GRANDE BIODIVERSIDADE AOS SINAIS DO APOCALIPSE

Altair Sales Barbosa

Numerosos estudos referentes ao sequestro e fixação de dióxido de carbono por formas vegetacionais demonstram a importância e a relação direta que o Cerrado tem exercido ao longo da sua história evolutiva para o equilíbrio da vida no planeta Terra. No mesmo sentido, estudos de Geotecnia apontam o valor dos lençóis freáticos, artesianos e aquíferos, oriundos do Cerrado, para a perenidade das principais bacias hidrográficas da América do Sul.

Entretanto, a ocupação humana desordenada, decorrente de programas de políticas públicas equivocadas, que colocam o Cerrado como grande fronteira de expansão agrícola e econômica, tem criado um panorama assustador, de dimensões nunca observadas na História da Humanidade.

Nesse contexto, o Cerrado foi e é recortado por inúmeras estradas, rios são represados, montanhas aplainadas, vegetação derrubada, rompendo o equilíbrio da cadeia alimentar e, como consequência, animais são levados a extinção, comunidades rurais desestruturadas de forma avassaladora e crescimento rápido e desordenado dos polos urbanos.


Geralmente, os responsáveis pela implantação de políticas públicas não levam em consideração o “tempo da natureza” em seus planejamentos; tampouco consideram a dinâmica da Ecologia do Cerrado. Por esta razão são incapazes de entender aspectos da sua história evolutiva, cujo tempo é medido pelos padrões estabelecidos pela Geologia, e calculado em milhares, milhões e até bilhões de anos antes do tempo presente.

Se este cenário continuar persistindo, dentro de um tempo mais curto que possamos imaginar poderemos presenciar um quadro desolador, conforme nos apontam dados e observações atuais. 

No Sistema Biogeográfico do Cerrado, o lençol freático se forma diferentemente nos diversos subsistemas.

Nos Subsistemas de Campos, também conhecidos pelas denominações de Chapadões ou Campinas Tabulares, o lençol freático é profundo e constitui-se no grande alimentador dos aquíferos. E, dependendo da natureza do solo, a água das chuvas que é infiltrada se desloca de forma rápida em direção aos aquíferos. Nos chapadões de origem lacustre, a infiltração é mais lenta e depende exclusivamente das formas vegetacionais nativas.

Nos Subsistemas de Cerrado ‘stricto sensu’ e Cerradão, situados nos interflúvios, a água da chuva, que se infiltra no solo, forma um lençol freático rico e abundante, mas também é profundo. Grande parte das águas pluviais escorre, de acordo com a declividade dos terrenos, para o leito dos rios.

Onde o estrado de gramíneas e arbustos nativos é denso, não há processos acentuados de ravinamentos; o contrário ocorre quando aparecem manchas que caracterizam áreas desnudadas.

Nos Cerrados e Cerradões, situados em declives mais acentuados, não há formação de lençol freático. As águas pluviais escorrem com velocidade para o leito dos cursos d’águas.

No subsistema de Matas o lençol freático é abundante e sub-superficial, em função do caráter umbrófilo, que diminui o impacto da insolação e da serapilheira que protege o solo. A rede hidrográfica que aí se forma é caracterizada por pequenos córregos e muito rica. Sua origem e alimentação estão na dependência direta dos lençóis freáticos aí existentes.

Nas Matas Ciliares o panorama é similar; a diferença é que o lençol freático alimenta diretamente o curso d’água mais próximo, através de escoamento rápido.

Nas Veredas, em função do sistema radicular das plantas e do caráter do solo húmico, turfoso e às vezes argiloso, o lençol é abundante e superficial, formando pequenas lagoas e sendo responsável pelas nascentes dos cursos d’águas do cerrado, cuja morfologia se apresenta como um anfiteatro.


Uma vez retirada a cobertura vegetal nativa, o primeiro lençol a secar é o que se encontra nos Subsistemas de Matas, Matas Ciliares e Veredas. O tempo para a finalização deste processo, de acordo com observações, situa-se entre dois a cinco anos.
Nas Veredas, por se tratar de um lençol superficial, o processo de desaparecimento será muito acelerado; talvez não chegue a alcançar o período de dois anos.

Nos Capões ou manchas de matas mais homogêneas, tipo as que definiam em outros tempos o chamado Mato Grosso Goiano, a rede de drenagem, caracterizada por pequenos córregos, também será extinta no prazo de dois a cinco anos; deixa, nos locais, os caminhos secos, que serão avolumados por processos erosivos colossais, em cada estação chuvosa, dependendo da gênese dos solos.

Nos Cerrados e Cerradões situados nos interflúvios, os lençóis secarão no prazo máximo de cinco a oito anos. Haverá a acentuação dos processos de ravinamento, cujas erosões serão capazes de esculpir no solo sinistras cicatrizes ruiniformes.

A retirada total da cobertura vegetal afetará, também de forma decisiva, a já reduzida recarga dos aquíferos, cujas reservas chegarão a um nível crítico, pois as águas pluviais que conseguirem penetrar através do solo serão de imediato absorvidas por estes, dado aos seus estados de aridez em função da insolação. A pouca umidade retida se evaporará de forma rápida devido às mesmas causas. No início, os problemas oriundos dessa situação tentarão ser contornados com a construção de barramentos, através de curvas de níveis e pequenos açudes, para reter as águas das chuvas. Entretanto, os ambientes que surgem desse processo tem caráter bêntico, fato que origina a argilicificação e a conseqüente impermeabilização do fundo dos poços, que, associada à forte insolação, resultará numa ação de nula eficácia.


O primeiro aquífero a ter suas reservas diminuídas será o Urucuia, até o quase total desaparecimento, seguido do aquífero Bambuí e do aquífero Guarani. O prazo para finalização deste processo, de acordo com dados de Geotecnia atuais, deverá compreender um período situado entre 15 a 25 anos.

 Com o desaparecimento do lençol freático, seguido da diminuição drástica da reserva dos aquíferos, os rios iniciarão um processo de diminuição da perenidade, oscilando sempre para menos, entre uma estação chuvosa e outra e desaparecendo quase por completo na estação seca.

Este fato afetará primeiro os pequenos cursos d’água, depois os de médio porte e em seguida os grandes rios.

Os fenômenos ocorridos nos chapadões centrais do Brasil, em função do desaparecimento do cerrado, afetarão de forma direta várias partes do continente.

A parte sul da calha do rio Amazonas, representada pelos baixos chapadões, terá uma rede de drenagem insignificante no que diz respeito ao volume d’água, uma vez que os grandes afluentes da margem direita que tem suas nascentes e seus alimentadores situados no cerrado, deixarão de existir ou terão seus volumes diminuídos de forma significativa nos cursos superiores e médios. Os grandes afluentes do rio Amazonas, pela sua margem direita, serão alimentados apenas nos seus cursos inferiores, fato que reduzirá em mais de 80% suas vazões.


A floresta equatorial deixará de existir na sua configuração original, sendo paulatinamente substituída por uma vegetação rala tipo caatinga, salpicada em alguns locais, por espécies de plantas adaptadas a um ambiente mais seco.

O vale do Parnaíba, englobando a bacia geológica Parnaíba-Maranhão, será invadido na direção sul/norte por dunas arenosas secas, provenientes da formação Urucuia, existente no Jalapão e Chapada das Mangabeiras. E, na direção norte/sul, por sedimentos arenosos litorâneos, que caracterizam os Lençóis Maranhenses e Piauienses, que em virtude de condições favoráveis terão facilidade de transporte eólico em direção ao interior. Os atuais poços jorrantes do vale do Gurguéia deixarão de ser fluentes, mas uma ou outra pequena fonte continuará existindo de forma precária.


Com o desaparecimento dos principais afluentes do rio São Francisco, pela sua margem esquerda, que cortam o arenito Urucuia, a ausência de alimentação constante, associada ao assoreamento, contribuirão para o desaparecimento do grande rio, nos seus aspectos originais. Permanecerão algumas lagoas e cacimbas onde o terreno tiver característica argilosa, ou outra rocha impermeabilizante originária da metamorfose do calcário Bambuí.

A Caatinga que já caracteriza parte do curso inferior do rio São Francisco avançará um pouco mais em direção ao norte, transicionando paulatinamente para a formação de uma grande área desértica, que certamente abrangerá o centro, o oeste, o sul da Bahia e norte e centro de Minas Gerais.

A região da Serra da Canastra permanecerá com alguns elementos originais, como uma espécie de enclave geoecológico, com clima subúmido.

Nas áreas correspondentes aos formadores e bordas da Bacia Hidrográfica do Paraná, as desintegrações intensas dos arenitos Botucatu e Bauru – que já formaram, na região durante os períodos Triássico e Cretáceo, grandes desertos, abrangendo um período de tempo compreendido entre 245 a 70 milhões de anos antes do tempo atual, com pequenas variações de tempo – acordarão de um sono profundo, expandindo seus grãos de areia, em várias direções, provocando erosões colossais, assoreamento e acúmulos de sedimentos na configuração de dunas. Do curso médio da Bacia do Paraná, até a parte superior de seus afluentes, haverá muitas áreas desérticas, separadas por formações rochosas ostentando vegetação de características áridas e semi-áridas.


A sub-bacia do rio Paraguai, alimentada pelo aquífero Guarani, sofrerá as mesmas consequências das demais regiões hidrográficas do Cerrado, transformando o atual Pantanal Matogrossense numa área de desertos arenosos, tal como já ocorreu na região durante o Pleistoceno Superior, onde ali existia o deserto do Grande Pantanal.

Logo após o desaparecimento por completo das comunidades vegetais nativas, fato que poderá ocorrer entre dez a trinta anos, a agroindústria terá seus dias de grande apogeu em termos de produtividade.

Os núcleos urbanos criados ou dinamizados como suportes destas atividades atingirão também seu apogeu em termos de aumento demográfico e em termos de ofertas e oportunidades de serviços de natureza diversa.

Passado certo tempo, contado em alguns poucos anos, esta realidade experimentará um grave processo de modificação. A produtividade agrícola começará a diminuir assustadoramente, causando ondas de demissões nas empresas estabelecidas. Isto acontecerá porque a água dos lençóis subterrâneos não é mais suficiente para sustentar a produção no sistema de rotatividade de antes. Não há água para fazer funcionar os pivôs centrais. A atividade agrícola sobrevivente se restringirá à época da estação chuvosa, que já se manifesta com instabilidades sazonais.


Os solos, outrora preparados intensivamente para os cultivos, serão ocupados em pequenas parcelas, deixando exposta uma grande superfície desnuda. Da mesma forma as pastagens que sustentavam a pecuária encontrarão afetadas, provocando a redução paulatina do rebanho.

Esta situação começará a refletir de forma visível nos polos urbanos. Haverá racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos rios, que por sua vez provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamento de energia elétrica também será imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os serviços, antes fartos e variados, afundarão numa crise sem precedentes.


Este fato provocará o aumento de pessoas ociosas e vadias nas cidades, situação que criará enormes embaraços sociais desagradáveis. Há a intensificação da criminalidade de todas as espécies, desde pequenos furtos, saques, assaltos e assassinatos. A prostituição se generalizará, trazendo consequências consideráveis para a saúde pública, que se apresenta cada vez mais decadente.

Os serviços públicos, incluindo a educação, por falta de arrecadação e manutenção começarão a beirar o caos.

Depois de aproximadamente uma década, a ausência de água nos rios criará uma paisagem desoladora. Áreas outrora ocupadas pelas lavouras serão caracterizadas agora por formas vegetacionais rasteiras e exóticas, típicas de formações desérticas, com um ciclo vegetativo muito curto.



Grande parte dos campos agrícolas abandonados, sem a cobertura vegetal necessária para fixar o solo, passará durante algumas épocas do ano a ser assolada por ventos e tempestades fortes, que criarão uma atmosfera escura carregada de grãos finos de poeira em extensões quilométricas.

Será possível ainda avistar um ou outro ser humano vivente, utilizando água empoçada, provavelmente de chuvas e exercendo pequenas atividades de subsistência. Também será possível encontrar uma ou outra família desgarrada e solitária, sobrevivendo de restos que ainda poderão ser obtidos. Os mais bem situados economicamente migrarão para o litoral, ou para outros países.

Os polos urbanos serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarmantes de mortalidade. A maioria da população sucumbirá, diante da miséria crescente.



A fauna nativa praticamente desaparecerá, mas ainda será possível observar alguns urubus e outras aves de rapina. A população de ratos aumentará descontroladamente, num primeiro momento, contribuindo também para o aumento da população de felinos, outrora domésticos. A mesma sorte, porém, não é compartilhada pelos cães, que no início desenvolverão alguns hábitos selvagens, mas não terão êxito na sobrevivência.
Passadas aproximadamente duas décadas, praticamente não existirão mais formas efetivas de população humana.

A população de ratos e gatos diminuirá de forma brusca e outros grupos de animais como répteis, tanto pequenos lagartos e cobras, começarão a aparecer em certos locais. Também será possível observar aracnídeos e insetos, dentre estes, pequenos besouros e escorpiões.

 Como lembrança das antigas paisagens de Cerrado outrora existentes nos chapadões centrais da América do Sul, algumas pequenas áreas provavelmente sobreviverão, em locais com micro-climas e solos preservados.  Entre esses pequenos espaços relictuais certamente estarão trechos da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Parte da Chapada dos Veadeiros em Goiás. Pequenas áreas residuais nos interflúvios da Serra da Mesa, em Goiás e Tocantins. Pequenos cânions cársticos separados entre si e situados entre Mambaí e Dianópolis, Goiás. Pequenas manchas, tanto nos interflúvios, como nos vales da Serra do Gurgéia no Piauí. Provavelmente restará, também como lembrança, uma pequena mancha de cerrado ‘stricto sensu’ no atual município de Itacajá, Estado do Tocantins, onde atualmente se situa a Terra Indígena dos Krahô.


A VERDADE, A ÁGUA E O HOMEM

Do Pecado Original ao Pecado Mortal


Altair Sales Barbosa

Dedicado a D. Pedro Casaldáliga, 
o peregrino do Sertão de Dentro.


Brotando das entranhas da terra, ou precipitando na forma de chuvas, granizo e neve, a água se nos apresenta na roupagem de vários personagens: pingos gotejando, fontes jorrantes, torrentes rugidoras, cascatas, lagos, rios e mares. Quando pura e límpida estimula a inteligência, quando suja, mata de maneira avassaladora, sendo responsável por 1,7 milhões de mortes por ano. É o único elemento encontrado no estado gasoso, sólido e líquido.

Sua origem se deve a fissura de minerais silicatados, em cuja composição entram átomos de hidrogênio e oxigênio, expelidos pelos vulcões ou lançados à atmosfera primitiva da terra pelo impacto de meteoros e meteoritos, isto aconteceu no alvorecer da história do nosso Planeta. De lá para cá se passaram quase cinco bilhões de anos, até que um dia, entre os seres viventes do Planeta Terra surgiu o gênero Homo, fruto de processos evolutivos complicados, antecedidos de adaptações e mutações coroadas de êxito. Este fato se deu a pouco tempo, geologicamente falando, dois milhões de anos, numa época denominada Pleistoceno, caracterizada por mudanças climáticas que afetaram todo o Planeta e de forma decisiva o Continente Africano, berço da humanidade.
  
Os primeiros representantes do gênero humano, conhecidos como Homo-habilis, se apossaram das águas do antigo lago Turkana, impedindo que seus parentes os Australopithecineos, fizessem também uso dessa água. E assim, pela força sedimentada no egoísmo, nosso primeiro ancestral conduz à extinção nossos parentes próximos e com base na competição se estabelecem à margem do lago, transformando-o no seu território primordial e com isto, a humanidade ainda no seu alvorecer, na disputa pela água comete o “Pecado Original”, fundamentado no egoísmo e no desejo de não compartilhar.

Do alto do seu poderio o Homo-habilis se transforma em Homo-erectus, conquistando além da África, a Ásia Menor, o Extremo Oriente e a Europa, sempre migrando ao longo de antigas fontes de águas cristalinas. Por volta de 200 a 150 mil anos antes do presente, o Homo-erectus dá origem ao Homo-sapiens primitivo, exímio caçador, nômade, cujo consumo de proteína animal o transforma num guerreiro fabuloso, mas extremamente dependente da água, quer seja para saciar sua sede e para suprir suas necessidades alimentares.

Por volta de 30 mil anos, o Homo-sapiens primitivo, agora transformado em Homo-sapiens-sapiens, já se encontra disperso pelos quatro cantos do planeta. Os vestígios arqueológicos demonstram que por muito tempo, nossos antepassados escolhiam seus locais de acampamentos ou locais para construírem suas aldeias e cidadelas, levando em consideração a qualidade da água. Como artimanha usavam sacrificar um animal e examinar o seu fígado, se este estivesse azulado, poderia ser indícios de água ruim, mas se o fígado do animal se apresentasse com aspecto saudável, significava que ali tinha água de boa qualidade.

 E assim, a humanidade foi estabelecendo uma relação de forte amor com a água.
Não é de se estranhar portanto, que nos primeiros documentos escritos dos Sumérios, já continham normas sobre a utilização da água.

Os camponeses sediados às margens do Nilo, do Eufrates e do Tigre, tinham de evitar que esses rios por ocasião de suas enchentes invadissem suas lavouras, para isso inventaram primitivos, mas eficientes pluviômetros para medir o volume de vazão da água.


São incontáveis os dados registrados em antigos documentos escritos que assinalam o significado que se emprestava ao uso da água. No Eufrates, por exemplo, foi encontrada uma lápide em calcário de mais ou menos 4.300 anos, antes do presente, com a seguinte inscrição: “Ur-Namu foi quem ordenou que se realizassem as obras dos canais; mas ele cede aos deuses a honra de fornecer a dádiva que é a água abençoada, que dá fertilidade as terras.”.

Também, no Velho Testamento se encontram inúmeros indícios da importância que se conferia à água. Eis um exemplo: “Empreendi grandes obras, edifiquei casas, plantei vinhas, fiz jardins e pomares e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. Fiz açudes para regar com eles os bosques em que reverdeciam as árvores” (Eclesiastes 2, vers. 4 a 6).

A noção de que se devia economizar água estava profundamente arraigada na mentalidade dos nossos antepassados da antiguidade. O antigo provérbio grego dizia: “O melhor, porém, é a água, melhor dos que os jogos olímpicos e do que o ouro.”

Foi Aristóteles o primeiro a estabelecer as relações entre a água da chuva e a água subterrânea.
 

Hipócrates faz inúmeras menções às fonte e seus poderes curativos.
Ainda na antiguidade as fontes mereciam a veneração dedicada às mães que, por sua vez, eram as protetoras dos lagos.

A água durante séculos foi utilizada como fonte de purificação, motivou João Batista no rio Jordão a expurgar o pecado original, usando-a como símbolo do batismo. Todas as religiões da terra a usam, com seus poderes mágicos nos seus rituais. É a madrinha dos querubins.


Foi às margens do rio Niger em Timbuctu, que Ibn Batuta pregador do Islão pelas terras do norte da África ao Iêmen, criou no século XI a primeira Universidade do mundo, para estudar a relação dos povos com a água e seus costumes.

E assim, acumulando conhecimentos o homem da pedra lascada, quase que num passe de mágica transforma-se em agricultor, promove no início a revolução muscular, depois a revolução mecânica, a revolução elétrica e nas ultimas décadas a cibernética, matriz da revolução eletrônica. Entretanto, a tecnologia que o possibilitou sair do seu Planeta e fincar bandeirolas em outros rincões do sistema solar, trouxe também o consumismo voraz como modelo de desenvolvimento e progresso. E, em nome deste, uma pequena parcela da humanidade moderna, de posse dessa alta tecnologia, e representada por grandes empresas multinacionais, desvinculadas dos estados e por isso, sem responsabilidade social e moral, se apossaram das águas modernas, poluindo os rios, construindo represas, desviando e transpondo os cursos das águas, sem levar em consideração as histórias evolutivas particulares de cada lugar.

 O fato é que hoje temos conhecimento suficiente para afirmar que a água é um recurso finito, que em breve vai faltar em várias partes do mundo, que os aquíferos que sustentam os rios, estão na base mínima de suas reservas e que com a retirada da vegetação nativa a recarga desses aquíferos se torna impossível. Sabemos que necessitamos de água em nossas casas, também necessitamos dela para a produção de alimentos, para a indústria, para produção de energia etc, mas também sabemos que sem saneamento, a água fonte da vida, se transforma num veneno letal.



Os donos do mundo já estão falando em privatização das águas, ou seja, querem considerar a água apenas um bem comercial, em contraposição aos que vêem a água como patrimônio da humanidade e que por isso, deve ser preservada e não privatizada, nem transplantada.


Agindo desta forma, os grupos poderosos, que em nome de um falso progresso já desestruturaram o território, orquestram agora o controle do Planeta, pela privatização da água. Será o principio do fim, porque a ganância associada ao egoísmo no seu mais elevado grau, fará o gênero humano se destruir pelo “Pecado Mortal”.


O mais impressionante é que estes grupos ou seus representantes se arvoram em ser os defensores do Planeta Terra. Temos que salvar o Planeta, apregoam eles, nos seus sistemas de comunicação, tomando medidas enganosas e paliativas. Ora, a Terra tem 4,6 bilhões de anos, durante sua trajetória evolutiva sofreu várias percalços, já foi Pangea, Laurásia, Gondwana, viu quase que a total extinção da vida, pelo impacto de meteoros, vulcões, furacões, etc, mas o Planeta, utilizando-se como parâmetro o tempo da natureza se refez, mesmo que de forma diferente, continuou sobrevivendo, e assim continuará. Ainda que um dia seque todas as fontes de água potável, com alguns milhões de anos, a velha Terra será capaz de se recuperar. Portanto a preocupação não deve ser com o Planeta. A Terra não precisa do homem, nós sim precisamos dela. O homem merece uma nova oportunidade, pois o modelo econômico predatório no qual está inserido, o encurrala num beco sem saída. 


sábado, 23 de julho de 2016

À PROCURA DO ARU-APUCUITÁ

(Carta aos professores)
Altair Sales Barbosa


Narra uma lenda indígena que, num período muito antigo, os remos para as canoas eram elaborados de uma madeira muito resistente e recebiam o nome de Aru-Apucuitá. Trata-se de um remo que numa extremidade tinha o formato de uma pá de forneiro, possuía um metro de altura, com empunhaduras bem trabalhadas. Com o tempo, os índios deixaram de fabricar os Aru-Apucuitá. Várias estações chuvosas se passaram desde então. E esse remo virou relíquia que sobrevive nas mentes e lembranças de alguns povos.

Segundo a mesma lenda, a pessoa que tiver a sorte de encontrá-lo, mesmo que seja um fragmento, basta retirar deste uma pequena farpa, colocar fogo numa das pontas e encontrará não só a felicidade e a liberdade, mas sua mente será iluminada na direção do caminho seguro...

... A aurora já chega com o prenúncio do início de um novo semestre letivo e os professores, qual pião em rodopio, buscam ordenar sua desordem ideológica, que mascara tempestades mentais, na ânsia da busca por motivações que possam transformar os alunos em agentes da história. E, na ilusão de que isto seja possível, dentro da realidade atual, por um instante se esquecem e desprezam as interferências dos mecanismos sociais que transformam a argila bruta, que é o homem ao nascer, numa estátua social, dando a esta as configurações do meio que a modelou. Este fenômeno é conhecido como socialização e pode ser entendido como um processo dinâmico através do qual o Homem se transforma num ser social. Quatro são os pilares básicos, nos quais este fenômeno se apoia: a Família, a Escola, a Igreja e os Grandes Meios de Comunicação de Massa, incluindo os Sistemas Cibernéticos.

Atualmente, a crescente desestruturação da família, causada por problemas de ordem econômica, ideológica, e pelas imposições do mundo moderno, contribuem para que, a cada dia que passa, esta exerça cada vez menos seu papel socializante.

"..... a Silvia  e o esposo já iniciaram o espetáculo ao ar livre. Ele está lhe espancando, e eu estou revoltada com o que as crianças presenciaram. Ouvem palavras de baixo calão. Oh! se eu pudesse mudar daqui para um núcleo mais distante."

A narrativa, até parece que foi extraída do noticiário da televisão ocorrido um dia anterior. Não foi. Trata-se de um pequeno trecho pinçado do livro “Quarto de Despejo”, de Carolina de Jesus, publicado em 1960. E só reforça a afirmação da precariedade do papel socializante da família.
As escolas, tanto as fundamentais, como as básicas e as superiores, que por algum tempo eram tidas como continuadoras da família, há muito deixaram de exercer esta função, mergulharam num pântano de lodo mal cheiroso e movediço, que suga a criatividade e faz seus dirigentes adotarem uma dança macabra, como se fossem fantasmas, diante de imposições ainda mais fantasmagóricas.
Os professores não conseguem a motivação necessária para transmitir o conteúdo. Isto acontece, porque o conteúdo não traz novidade e não é mais motivador. Grande parte dos alunos já conhece, por outros meios, o que lhe será transmitido. A aula dentro da sala perde, então, o interesse e o sentido.

A escola que outrora se constituía num ponto de encontro para se fazer amizades, trocar ideias e aprender novidades, não é mais nada disso. Hoje, as redes sociais desempenham este papel.
A maior parte das escolas básicas e fundamentais carece de pátios para brincadeiras, não tem bibliotecas, muito menos equipamentos para dinamizar uma aula. E, sequer de longe, pode-se mencionar que não possuem laboratórios. Isto é muito luxo, para quem acha que o ensino não necessita de experiências.

Os professores se sentem desmotivados não só pela remuneração. Aliás, para quem nunca ministrou uma aula, pode-se afirmar que não há na terra, tarefa mais exigente, responsável e cansativa. Porém, também sentem-se desmotivados, porque não são mais respeitados pelos alunos. As associações sindicais de pais de alunos, apoiados pelos meios de comunicação sensacionalistas, são capazes de levar um professor à “Justiça” se este, no intuito de impor a disciplina, alterar um pouco a sua voz na sala.

Aliás, por falar em disciplina, as escolas hoje em dia são vigiadas por policiais, porque viraram pontos de compra, venda e consumo de alucinógenos. A falta de perspectivas faz o aluno buscar esses caminhos. Por isso e muito mais, a escola tal qual a família não faz corretamente o papel de socialização e formação de cidadãos.

O terceiro elemento fundamental na tarefa de socializar é a Igreja. Entretanto, com a materialização crescente dos princípios sociais, norteados pela bandeira maior do capitalismo que estampa o consumismo e ainda, com a deturpação da doutrina básica do Cristianismo, para citar apenas o caso do Brasil, doutrina esta mutilada pelo economicismo, a que muitas seitas lançam mão para sobreviverem, enriquecerem e criarem impérios, faz com que haja a disseminação da descrença. E, quando esta não vem, em seu lugar surgem o fanatismo e a alienação, que podem ser considerados a encarnação da própria escravidão. Portanto, se a família não cumpre adequadamente o papel de socializar, a escola e a igreja, atualmente, o fazem muito menos.

Quem desenvolve com eficiência o papel de socialização e formação das mentes na sociedade brasileira são os Grandes Meios de Comunicação de Massa. Esses veículos, com uma força avassaladora, modelam os hábitos da sociedade brasileira, mudam horários de eventos tradicionais, de acordo com seus interesses, transformam em artistas quem não são, fazem o povo cantar músicas alienantes e depressivas, visando a irradiação da mediocridade, porque, quanto mais medíocre e sem consciência crítica fica o ser humano, também se torna mais fácil aceitar programas banalizantes, com altos índices de audiência etc. Assim, estes Meios vão contribuindo para a formação de cidadãos doentes, agressivos, neuróticos, angustiados, depressivos, e miseráveis globalmente. Uma vez submetidos às condições desfavoráveis, esses seres se deixam dominar sem outra reação qualquer, que a do conformismo, ante sala da alienação.

Este, de modo geral, é o tipo de sociedade que compartilhamos atualmente. Não há solidariedade, não há valor pela vida, não há exemplos de honestidade e a corrupção, qual cavalo selvagem, campeia relinchando pelas campinas graminosas. Assim, convivendo com estes exemplos, a utopia da construção de uma sociedade sadia se torna cada vez mais longínqua.

Por sua vez, o Governo brasileiro, através do Ministério da Educação (MEC), sem criatividade e talvez sem a competência necessária, cria a todo instante mecanismos autoritários, repressores, restritivos, que só reforçam a situação atual refletida pela sociedade brasileira. Inadvertidamente, Governo e MEC parecem contribuir para a manutenção deste quadro.

Movidos pela ideia errônea de que povo culto é aquele que tem diploma universitário, cometeram e vêm cometendo erros imperdoáveis, permitiram a criação de cursos universitários sem qualidade e a multiplicação desenfreada das faculdades pegue-pague.

Buscando corrigir essas distorções monstruosas que foram criadas, o Ministério da Educação tem lançado mão de instrumentos ineficazes e inoperantes, que ao invés de corrigirem as falácias, colocam numa mesma caixa vazia de bombom, ou melhor dizendo, num leito de hospital psiquiátrico, todas as Instituições de Ensino Superior, sem considerar suas peculiaridades, sua história, seu contexto, a importância e a vocação regional de cada uma.

Ao proceder desta forma, o MEC intervém de uma maneira nunca vista na história do autoritarismo brasileiro, impedindo o crescimento destas instituições tradicionais, restringindo suas ações de pesquisa, que é o fundamento da existência da própria Universidade, impedindo suas ações inovadoras e criativas, uma vez que as obriga a vestirem uma camisa de força para cumprirem, sem reclamar, as equivocadas exigências do Ministério.

O sistema avaliativo atualmente implantado para aferir as Instituições de Ensino Superior, quer seja através dos alunos, quer seja avaliando a própria instituição, está cheio de contradições e não se baseia num alicerce teórico sólido, que consiga expressar a real situação institucional. Isto porque não se toma em consideração a inserção social da Instituição avaliada, sua participação na formação da realidade regional, sua vocação, sua missão, tampouco a história e os contextos.

A impressão que fica é que essas ideias absurdas parecem que de repente, brotam da cabeça de pessoas que se julgam geniais, cujo trabalho se desenvolve em um cubículo cercado por quatro paredes, distante da realidade do território brasileiro, que é um continente, com inúmeras diferenças regionais, refletidas nas atividades econômicas, sociais e culturais, permeadas por uma diversidade ambiental de grandeza e significados incomensuráveis.

Esses sistemas de avaliação nos remetem ao episódio em que Charles Darwin foi avaliado pelo conselho de classe do Colégio no qual estudava. Na ocasião, o reitor desse Colégio expressou: “Trata-se de um péssimo aluno, não gosta das aulas de canto e chega a chorar quando tem que assistir e participar das aulas de balé. Seu negócio é observar as mariposas pousarem nos troncos das árvores. Parece um desajustado!...”

Em tempo, foi observando as mariposas que Darwin criou o conceito de mimetismo, que culminaria na ideia de seleção natural e evolucionismo, fundamentos que revolucionaram o pensamento humano.
Da mesma forma que o MEC está enganado e deve rever seus processos avaliativos, a CAPES e o CNPq deveriam revisar seus conceitos de pesquisa.  Não deixar que esses conceitos que brotam em cabeças de burocratas se transformem em obstáculos para o desenvolvimento dessas atividades no seio das verdadeiras Universidades brasileiras. Para aqueles que sempre cantavam ou cantam as canções de Vandré, é sempre oportuno recordar o que este compositor e poeta diz em uma de suas músicas:

"Não vai falar de amor quem nunca soube amar".

Isto se aplica a diversas áreas de atuação. Não pode traçar diretrizes para a educação ou para a pesquisa quem nunca foi educador ou pesquisador. Se insistir nesta tecla, poderá ser criada uma teia complexa de instrumentos impeditivos e desafinados.

A missão de ser professor e ou pesquisador é tarefa que exige vocação e aptidão, é claro, que associada ao conhecimento. Tentar relacionar a titularidade de doutor a pesquisador é uma atitude semelhante ao do Reitor daquele mencionado Colégio, querendo transformar Charles Darwin num dançarino de balé.

... Assim, por detrás desta realidade, às vezes vem aquela vontade louca de corrermos de nós próprios, ou procurarmos esconder um choro ainda mais dolorido, para que ninguém possa ver nossos olhos marejando. Talvez, a vontade de fugir seja pela falta de comunhão e o choro, seja pelos elementos fundamentais que a educação perdeu, principalmente a dignidade, o respeito, o entusiasmo e o orgulho de ser professor.  O que significa a encarnação da própria vergonha, por isso procuramos chorar escondidos e bem baixinho. Sentimos vergonha da incapacidade de não podermos ter evitado os tenebrosos caminhos que conduziram a educação para a situação em que se encontra.

Por outro lado, na esperança daqueles que sentem que não foram derrotados, afirmamos ser impossível tentar entender ou explicar a curvatura do universo, utilizando os parâmetros da Física Newtoniana ou da Geometria Euclidiana. O máximo que a física de Newton alcançou foi compreender a gravitação universal e a geometria de Euclides conheceu no máximo três dimensões. A compreensão da realidade atual cibernética, a inércia na tomada de atitudes radicais, a falta de conscientização, a abdicação do papel fundamental da educação na formação de cidadãos conscientes e o abandono da busca da felicidade e liberdade são situações que somente poderão ser explicadas, ou talvez compreendidas, através da mudança radical dos padrões de como vimos o mundo, e como o vemos atualmente. Para isto, a busca de novos paradigmas se torna imprescindível. Os que existem são incapazes de fornecer as respostas necessárias para encontrarmos o caminho do êxito e do equilíbrio.


Por isso, como professores ou pesquisadores, mesmo nadando contra fortes correntezas, nunca perdemos a esperança. Quando em campo, ficamos vasculhando os barrancos dos rios por onde andamos, sempre à busca de um fragmento do Aru-Apucuitá. 

O RELINCHAR DA QUAGGA

Altair Sales Barbosa 


Quagga era uma espécie de zebra garbosa e imponente de pelagem marrom clara, pernas esbranquiçadas com tonalidades amarronzadas, listras pretas e brancas, da cabeça até a parte superior do dorso. Nativa dos prados da África do Sul foi violentamente caçada tanto por sua carne, quanto por sua pele. Desapareceu totalmente em 1872.

Por outro lado, o mar de Aral situado na região desértica da Ásia Central, é outro exemplo clássico de contínuo desastre humano e ambiental. O mar é alimentado por dois importantes rios, o Amur Dar’ya e o Syr Dar’ya. Até o início do século XX, havia um equilíbrio entre a água fornecida por esses rios e o índice de evaporação do mar de Aral, que não tem escoadouro. A partir de então, a antiga União Soviética, buscando tornar-se autossuficiente na produção de algodão, desviou as águas dos dois rios para irrigar as grandes áreas para plantação. Esta iniciativa provocou drasticamente, num ritmo crescente, a diminuição do volume de água do mar de Aral, que se tornou um pesadelo ecológico e ambiental, para mais de 35 milhões de pessoas.


A medida que o mar de Aral foi encolhendo, vastas áreas do seu leito, ficaram expostas. O material em exposição contem grande quantidade de cloreto e sulfato de sódio, elementos nocivos para as plantações. Além disso, o vento que sopra essas terras, levanta o sal e a poeira que são carregadas para toda região do Aral, causando imensos prejuízos à safra de algodão e à vegetação nativa restante. A seca e a poeira salgada tem sido a causa de inúmeras doenças, incluindo o câncer de garganta. A água potável tornou-se tão contaminada que muitas pessoas sofrem de distúrbios intestinais.


Estes exemplos demonstram que a extinção de comunidades animais e vegetais, bem como o desaparecimento de rios, desertificação, mudanças climáticas oriundas de desmatamentos, chuvas ácidas, desabamento de casas construídas sobre lixões, contaminação por lixo tóxico, vazamentos de óleos etc, são fenômenos que o homem pode causar e que o afeta diretamente. Entretanto, se ampliarmos o horizonte para além do tempo histórico ou para além do tempo de aparecimento do gênero “Homo”, constataremos que estes fenômenos são insignificantes para afetar a existência do planeta Terra. Porque a Terra, não necessita do homem para continuar existindo, pode ser ferida aqui, ou ali, dentro do conceito humano. Porém, no parâmetro do tempo geológico, sempre arranjará meios de se recompor, recriar novas paisagens, até quem sabe, melhores para seu equilíbrio planetário.



O ser humano deveria descer do seu pedestal de onipotência e achar que é capaz de salvar o planeta. Esta é uma visão ridícula, que só interessa aqueles que querem ridicularizar as massas para que estas permaneçam na escuridão da ignorância. E assim, aceitem passivamente, ensinamentos medíocres, covardes, com roupagem farisaica e economicista.


A Terra é um planeta dinâmico, cujas forças vão muitíssimo além da capacidade humana. Com a idade de 4 bilhões e 600 milhões de anos, a Terra é um planeta em constante mutação. Essas mudanças evolvem tamanho, formato, inversão da polaridade magnética, distribuição geográfica dos continentes e das bacias oceânicas, formação de cadeias rochosas, geleiras, maremotos, etc.

A composição da atmosfera e as formas de vida que hoje existem, diferem daquelas do passado. Podemos visualizar os desgastes das montanhas pela erosão de geleiras, das águas, dos ventos, etc. Da mesma maneira que observamos como se formaram cânions, desertos, e outras paisagens ao longo do tempo. Erupções vulcânicas, terremotos, deslocamento de placas tectônicas só demonstram o interior ativo do planeta e rochas fraturadas e dobradas revelam o enorme poder das forças internas da Terra.

Portanto, vulcões, terremotos deslocamentos e acomodações de placas tectônicas, fenômenos como El Niño e La Niña, orogenismo, subsidência, glaciação, até o efeito estufa, dentro de um tempo pretérito, etc, não são fenômenos decorrentes das atividades humanas na biosfera. Estes fenômenos sempre existiram no planeta, muito antes do homem evoluir de um ramo especial de primatas e criar as tecnologias que impulsionam o mundo moderno.

As forças que hoje atuam na Terra são as mesmas que sempre atuaram desde as origens do planeta. Certamente as condições do futuro serão diferentes das atuais.

Se o modelo de vida atual continuar sem revoluções significativas, não teremos certeza se os seres humanos continuarão evoluindo. Da mesma forma, caso haja esta possibilidade, paira dúvidas, sobre quais parcelas da humanidade alcançariam um futuro distante e como seriam as formas dos nossos descendentes. O que não paira dúvidas é que por mais de 4 bilhões de anos, várias transformações aconteceram na Terra. Vulcões e terremotos ocorreram e deverão prosseguir ainda por muitos milhões de anos.

A ciência tem conhecimento suficiente para afirmar que os elementos radioativos existentes no interior da Terra e que representam importantes fontes de calor, um dia, num futuro, irão desaparecer. Desse modo, a energia geotérmica que movimenta o interior da Terra irá extinguir-se. Como consequência, o campo magnético do planeta deixará de existir, expondo a Terra à ação dos ventos solares, com suas radiações mortíferas, e que podem nos alcançar com velocidades de 900 km por segundo, varrendo do planeta toda forma de vida conhecida.

Com o término do campo magnético, associado às atividades de vulcanismo e ao aumento do calor oriundo do sol, a água da Terra irá evaporar, originando um planeta deserto. Se estendermos nosso horizonte para um futuro mais longínquo, 5 bilhões de anos, como estimam os astrônomos, poderemos entender que o Sol transformar-se-á numa estrela gigante avermelhada que engolirá a Terra e o próprio Sistema Solar desaparecerá.

O que se pretende demonstrar com esses exemplos é que nós humanos deveríamos compreender que muitos desastres naturais, estão muito além do nosso alcance.



É comum imaginarmos que a extinção dos dinossauros, há 70 milhões de anos, foi uma imensa tragédia. Na realidade foi uma tragédia. Entretanto, se comparada às tragédias ocorridas no final do Paleozoico, se torna um evento pequeno. No final do Paleozoico há 250 milhões de anos, as catástrofes levaram à extinção mais de 90% da vida até então existentes no planeta.


Lembramos com frequência da última glaciação, que iniciou há 2 milhões de anos, e que teve seu último avanço situado há 11 mil anos. Este fenômeno redesenhou a face moderna do planeta Terra. Todavia, inúmeros fenômenos glaciais já aconteceram no planeta ao longo de sua turbulenta história.

O ser humano deveria parar de mentir para si mesmo. Isto faria um bem para toda humanidade. Porque é tão difícil admitirmos a evolução? Será que admitir que somos produtos da evolução nos obriga a confrontar vários fatores que preferiríamos ignorar?

Paisagens complexas compostas de flora e fauna tão improváveis hoje em dia, já apareceram e desapareceram da Terra. O homem é apenas um elemento na história do planeta, o qual se desenvolveu muito bem sem sua presença, por centenas de milhões de anos.

Se nós humanos perdermos a flexibilidade para adaptarmos, também seremos extintos. Neste caso outras espécies tomarão nosso lugar. Preencherão nossos nichos e seguirão com o processo evolutivo.

Por fim, é preciso termos consciência que nossas habilidades para controlar o curso dos eventos humanos é uma ilusão. A confiança é adaptativa e muitas práticas culturais têm como uma de suas funções a manutenção da confiança.

Os mitos dizem que fomos criados para dominar a Terra, os rituais reforçam esta ideia, porém a confiança como outros atributos pode também chegar a ser uma má adaptação. Isto parece ser o caso da nossa confiança no crescimento explosivo da população humana. Confiamos que problemas como modificação substancial da atmosfera; que a redução significativa da biota natural, que a exploração desenfreada dos recursos não renováveis; que a injeção massiva de materiais tóxicos no ar, no solo, no mar; que o desmatamento descabido para expandir as fronteiras econômicas; que a transposição de rios frágeis; que o represamento inescrupuloso das águas correntes, etc, confiamos que tudo isso, traz ambientalmente problemas simples, que podem ser resolvidos bem e quando quisermos.

Se esta ideologia continuar guiando as pessoas que pensam no efêmero e iluminar os apóstolos de religiões que manobram com ar de onipotência, em nome de Deus, grandes massas populacionais para construção de impérios dourados, a ignorância, filha desse processo, será responsável por conduzir cada vez mais o povo para os subterrâneos da incompetência, podando-lhe a consciência e a criatividade.



Aí então, será apenas uma questão de tempo para ouvirmos o último relinchar das zebras, primas da Quagga, que às duras penas, ainda sobrevivem nas savanas africanas.