José Alves
Presidente da Fundação Serra da Mesa
2006...uma pedra fundamental foi afixada no solo marcando o
início de um novo tempo. As velhas e imponentes árvores, com seus troncos
retorcidos e belos, próprios do nosso rico cerrado, a que tudo assistiram,
podem contar a história, e hoje, tenho muito tempo para ouvi-las, e elas querem
falar!
Plantadas pelo Criador nesse lugar estratégico, viram todas
as mudanças que em tão pouco tempo ocorreram. Passado e presente se encontram
porém, não podem dar as mãos pois se distanciaram tanto... algumas cortadas,
outras submersas, e outras viraram cinzas pelas queimadas. Assentado aqui, na
entrada do Memorial, ouço-as gemendo e consigo entende-las contando tristemente
a história que presenciaram estando nesse mesmo lugar: quando os
primeiros habitantes, donos da terra que, por não terem um papel que
provassem a validade de seus direitos, tendo todavia o aval do Criador, foram expulsos;
quando os rios cerceados de sua liberdade de trilhar seu caminho foi morrendo
aos poucos, junto com toda pluralidade e diversidade dos peixes e
animais, aves e répteis que habitavam suas águas , rio que desaparece aos
poucos como uma lágrima que seca ao escorrer pela minha face. Elas sentem falta
dos animais que outrora corriam livremente, parindo suas crias e descansavam à
sua sombra de galhos floridos e se alimentavam da doçura de seus frutos ímpares
e tão desconhecidos ainda, tristemente os viram sendo guardados, mortos e
mumificados, se transformando em peças do museu.
Sim...posso ouvi-las com seu canto triste narrando uma
história passada e um presente doído sem perspectiva de futuro, enquanto o
bicho homem não entender que ele morrerá na mesma velocidade com que destrói o
que resta da natureza teremos que ouvir apenas lamentos dessas rainhas.
À porta do Memorial Serra da Mesa enquanto
aguardo, as poucas pessoas que ainda amam essa riqueza que foi guardada com
tanto amor e requinte, converso com elas... e vejo que se sentem bem quando
alguém lhes dá atenção. Aqui, pelo menos, sabem que estão seguras e serão
preservadas, portanto não correm o risco de desaparecerem no ar como pó.
Um comentário:
Li ouvindo um dos sons do Cerrado: "Fim de tarde." Eloísa Revaldaves.
Postar um comentário