Um Vento de Poeira Ameaça a Educação
Superior do Brasil.
Altair Sales Barbosa
Um
anúncio publicado nos meios de comunicação expressa: Empresa de porte médio
está contratando doutores, mestres, especialistas e até graduados, em diversas
áreas do conhecimento, para trabalho na capital e interior. Não se exige como
pré-requisito o conhecimento específico da área, mas é obrigatório, no ato da
inscrição, apresentar a titulação legalizada pelos órgãos competentes.
Os
profissionais serão selecionados por uma banca examinadora composta por
doutores. A banca levará muito em conta o conhecimento generalista do candidato
e o compromisso de que em nenhum momento irá questionar ou desobedecer às
ordens e procedimentos de seus superiores.
Os serviços a
serem contratados serão oferecidos e desenvolvidos na forma de aulas, para faculdades,
universidades e até escolas fundamentais.
Os interessados
deverão enviar seus currículos para a empresa Curral Fechado, Rua Ponta do Círculo s/n, CEP:000 000 – 000.
O anúncio, quando
publicado causou surpresa em muitos e preocupação em alguns, parecia tratar-se
de brincadeira, mas na realidade era o prenúncio de encruzilhadas pelas quais guiavam
algumas instituições de ensino do Brasil, especialmente as de ensino superior.
As aulas foram se
tornando vazias e abstratas. As universidades por sua vez, foram abandonando e
burocratizando a digna tarefa da pesquisa, eliminando seus bacharelados e
recheando suas licenciaturas com conhecimentos pedagógicos duvidosos e
desonestos para com as novas gerações, já que os conhecimentos divulgados foram-se
desvinculando de compromissos éticos, morais, culturais e científicos.
O professor na
sala de aula, passou a exercer a função de difusor de conhecimentos
generalistas, recheados de informações colhidas nos meios de comunicação e na mídia
virtual. Os alunos, como figuras mutiladas e degradadas, quando formados, seriam
jogados numa arena para uma competição global, semelhantes a bêbados brigando
num “pula-pula”.
Esse modelo seria
o paraíso para aqueles que querem aniquilar a alma da universidade, que é a
pesquisa científica, a produção de conhecimentos. Esses tipos de dirigentes
nunca entenderam os diversos meandros da pesquisa, tanto de campo como de
laboratório, nem sequer suas consequências, para a busca de respostas concretas
que a sociedade atual exige. Imbuídos de paradigmas ultrapassados, buscam na
força do poder e na implantação do medo o respaldo para suas atitudes.
Pesquisadores e
intelectuais que não se formam por decretos, e sim pela competência e
experiência, são pessoas que pensam e fazem cultura, são conscientes, críticas
e até “chatas” para quem não suporta a crítica, foram aos poucos desvalorizados
pelas estruturas nebulosas que começaram a reger a academia. O modelo de terceirização foi permitindo que
esses pensadores e fazedores de cultura e também críticos, fossem substituídos por
grupos emergentes de profissionais terceirizados que se agarram com seus
dirigentes, feito parasitas, dando-lhes a força necessária para continuarem remando
suas canoas por águas calmas que passaram a refletir uma imagem macabra, na
linha melódica do dizer do poeta:
“... é que Narciso acha feio o
que não é espelho,
e a mente apavora o que ainda
não é mesmo velho,
nada do que não era antes
quando não somos mutantes.”
A terceirização do
ensino é uma saída miraculosa para alguns dirigentes que não tem compromisso
para com o futuro do país. Acabam os problemas com as ausências eventuais, pois
a empresa terceirizada teria que colocar imediatamente um substituto.
Economizam na compra de equipamentos laboratoriais, já que as aulas práticas e
as pesquisas não existiriam mais. Restaria um ou outro laboratório sucateado.
Acabariam os problemas de negociação salarial com as associações
representativas de classe. A quantidade é fundamental para substituir a
qualidade.
Num passado não tão distante o anúncio soaria como
ficção, no entanto, hoje já se tornaram realidade em vários rincões do Brasil,
portanto aquelas pessoas que se julgam verdadeiros educadores, comprometidos
com o futuro, não deixem que suas gerações herdem um mundo desumano e
excludente, façam o que tiverem ao alcance para que o vento de poeira, não se
transforme numa tempestade avassaladora. Se porventura esta situação vier
acontecer, será o fim, e de vez, será sepultada a pedagogia da esperança. Uma
universidade verdadeira tem diante de si um imenso papel profético de continuar
formando e oferecendo elementos pedagógicos e científicos que permitam o
surgimento de opiniões desprovidas dos preconceitos e preocupadas com o futuro.
Porque a educação sadia, sedimentada em princípios éticos, é o único processo
através do qual o ser humano conquista sua liberdade e constrói sua felicidade.
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