ONDE SE ENCONTRA O IDEAL DE SEUS
MESTRES?
Altair Sales Barbosa
Os atos de incompetência,
arrogância e ausência de conhecimento para planejar, que nos últimos anos vem
caracterizando o Ministério da Educação, têm-se transformado num furacão
furioso e atingido a maioria dos dirigentes das escolas de nível superior do país, tanto as escolas públicas quanto
as escolas privadas, no que diz respeito aos mesmos temas.
Imbuídos por conceitos errôneos
de globalização, querem transformar o “intelectual” em um simples divulgador de
nível superior.
O Ministério da Educação
concretiza esta situação, através da autorização indiscriminada para abertura
de inúmeras escolas de nível superior. Talvez embasado numa ideologia mesquinha
e demagógica de que quanto mais elementos de nível superior o Brasil possuir,
melhor desempenho terá nas estatísticas, não importando, porém que estatísticas
são estas, nem a qualidade dos que foram quantificados. Esta simplificação trai
o princípio básico da educação que é a conscientização e em nome da banalização
cria-se uma enorme massa alienada, talvez de grande utilidade para uma
ideologia que não quer deixar margens para outras formas de pensar.
As tradicionais instituições
de ensino superior, diante de tal quadro e talvez pela falta de coragem,
criatividade, competência e ousadia de seus dirigentes, se sentem perdidos
diante de tanta confusão e burocracia, na condução das instituições onde são
dirigentes. Os antigos caminhos dos ramos de conhecimento que outrora se entrecruzavam
com frequência formando afluentes que desaguavam em rios que transportavam
sabedoria, ética, lógica e ciência, sonhos, lutas etc, são desviados em canais
rasos e poluídos, porque esses dirigentes são incapazes de libertarem da camisa
de força que lhes é imposta.
Entretanto, mesmo assim, diante
desta situação conscientes ou inconscientes, porém atados, aceitam como
verdadeira uma cosmovisão deturpada e se arvoram em ser o “Deus Criador” para
provocarem um big-bang e explodirem o indivisível universo “Ensino, Pesquisa, Extensão”.
Uma vez implodido este universo,
conduziriam suas instituições de ensino
superior pelo canal que denominam ensino, mas que popularmente é chamado
aulismo. Dessa forma inconscientes ou não, contribuem para formar pessoas
incapazes de resolverem humanisticamente os problemas propostos pela velocidade
das mudanças tecnológicas, e praticam a divulgação de conhecimentos baratos, de
péssima qualidade, criando entre seus corpos discentes e docentes uma massa
informe, descontente e alienada.
Nas tradicionais instituições
privada a gravidade é ainda maior. A iminência da falência administrativa por
falta de uma visão maior, obriga os administradores a implantarem como única
saída a política do “terrorismo do medo pelo medo”, onde a fúria estarrecedora
da falta ou capacidade da busca de alternativas e planejamento adequado, rompe
de vez com o universo “ensino, pesquisa e extensão” fragmentando inclusive a
dimensão do ensino e reduzindo-a em mera divulgação e assim vão consolidando
seus poderes em detrimento da grande maioria dominada. Esta maioria fica
impedida de optar, lucidamente dopada pelo que lhe é imposto. Com isto, vai-se
perdendo a capacidade de projetar um futuro melhor e cada vez mais desaparece
no horizonte a possibilidade da criação e incentivo de núcleos de pesquisa pura
ou aplicada, como queiram, mas que possam responder as necessidades urgentes da
humanidade e da vida.
O reducionismo da atividade de
ensino em simples divulgação barata está aniquilando tanto nas universidades públicas tradicionais como
nas universidades privadas tradicionais,
suas “ilhas de excelência”, ou em outras palavras o que elas tem de melhor:
seus centros de pesquisas ou institutos
de criação e integração. Sem estes, os esforços institucionais cairão no
vazio e não poderão adquirir a sua total plenitude.
...Nós, que fomos formados nos
autênticos valores do Cristianismo ficamos sem entender esta crescente situação
desumana, que aos poucos vai conduzindo as pessoas ao suicídio por omissão.
Porque esta situação cria no universo da universidade uma solidão interior e um
individualismo generalizado, práticas antagônicas com os princípios do
Cristianismo.
Estamos presenciando uma divisão
entre inteligência, razão e emoção. O preço pago pelos que querem lutar contra
essa situação pode ser a esquizofrenia, causada pela impotência das
mobilizações. Tudo isto gera uma profunda mutação no nosso cotidiano e no nosso
relacionamento, vamos paulatinamente abandonando a ética da cooperação e
substituindo-a pela ética da competição desleal.
Assim, o corpo universitário, alunos,
professores, funcionários etc. isolado individualmente e responsável por si só,
vê a própria vida e a morte perderem seu sentido comunitário.
Por isto, neste momento de
indefinições perigosas, seria útil, antes de qualquer decisão, que os
dirigentes soubessem cultivar a humildade e lembrassem daquele ideário antigo
da educação, “quanto mais sabemos, mais
necessitamos aprender”. E ainda neste contexto, não custa relembrar alguns
versos da velha e nova canção de Milton Nascimento.
“Coração de Estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé.
2 comentários:
Pois é Mestre,assistimos a queda lenta das colunas erigidas por grandes pensadores da educação, e o último governo acelera a queda.
Professor Altair, ouvi de certa feita que " quando vc estiver preparado, o Mestre surgirá" , mas como estar preparado se diariamente o processo educacional é agredido, seviciado e colocado em cova rasa? Não tem como!!!! Seria necessário um chamamento monstruoso para levar ao engajamento, mas será que ainda existe esperança?
Cylene Gama
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