sábado, 8 de outubro de 2016

CORAÇÃO DE ESTUDANTE



ONDE SE ENCONTRA O IDEAL DE SEUS MESTRES?

Altair Sales Barbosa


Os atos de incompetência, arrogância e ausência de conhecimento para planejar, que nos últimos anos vem caracterizando o Ministério da Educação, têm-se transformado num furacão furioso e atingido a maioria dos dirigentes das escolas de nível superior do país, tanto as escolas públicas quanto as escolas privadas, no que diz respeito aos mesmos temas.

Imbuídos por conceitos errôneos de globalização, querem transformar o “intelectual” em um simples divulgador de nível superior.

O Ministério da Educação concretiza esta situação, através da autorização indiscriminada para abertura de inúmeras escolas de nível superior. Talvez embasado numa ideologia mesquinha e demagógica de que quanto mais elementos de nível superior o Brasil possuir, melhor desempenho terá nas estatísticas, não importando, porém que estatísticas são estas, nem a qualidade dos que foram quantificados. Esta simplificação trai o princípio básico da educação que é a conscientização e em nome da banalização cria-se uma enorme massa alienada, talvez de grande utilidade para uma ideologia que não quer deixar margens para outras formas de pensar.

As tradicionais instituições de ensino superior, diante de tal quadro e talvez pela falta de coragem, criatividade, competência e ousadia de seus dirigentes, se sentem perdidos diante de tanta confusão e burocracia, na condução das instituições onde são dirigentes. Os antigos caminhos dos ramos de conhecimento que outrora se entrecruzavam com frequência formando afluentes que desaguavam em rios que transportavam sabedoria, ética, lógica e ciência, sonhos, lutas etc, são desviados em canais rasos e poluídos, porque esses dirigentes são incapazes de libertarem da camisa de força que lhes é imposta.

Entretanto, mesmo assim, diante desta situação conscientes ou inconscientes, porém atados, aceitam como verdadeira uma cosmovisão deturpada e se arvoram em ser o “Deus Criador” para provocarem um big-bang e explodirem o indivisível universo “Ensino, Pesquisa, Extensão”.


Uma vez implodido este universo, conduziriam suas instituições de ensino superior pelo canal que denominam ensino, mas que popularmente é chamado aulismo. Dessa forma inconscientes ou não, contribuem para formar pessoas incapazes de resolverem humanisticamente os problemas propostos pela velocidade das mudanças tecnológicas, e praticam a divulgação de conhecimentos baratos, de péssima qualidade, criando entre seus corpos discentes e docentes uma massa informe, descontente e alienada.

Nas tradicionais instituições privada a gravidade é ainda maior. A iminência da falência administrativa por falta de uma visão maior, obriga os administradores a implantarem como única saída a política do “terrorismo do medo pelo medo”, onde a fúria estarrecedora da falta ou capacidade da busca de alternativas e planejamento adequado, rompe de vez com o universo “ensino, pesquisa e extensão” fragmentando inclusive a dimensão do ensino e reduzindo-a em mera divulgação e assim vão consolidando seus poderes em detrimento da grande maioria dominada. Esta maioria fica impedida de optar, lucidamente dopada pelo que lhe é imposto. Com isto, vai-se perdendo a capacidade de projetar um futuro melhor e cada vez mais desaparece no horizonte a possibilidade da criação e incentivo de núcleos de pesquisa pura ou aplicada, como queiram, mas que possam responder as necessidades urgentes da humanidade e da vida.

O reducionismo da atividade de ensino em simples divulgação barata está aniquilando tanto nas universidades públicas tradicionais como nas universidades privadas tradicionais, suas “ilhas de excelência”, ou em outras palavras o que elas tem de melhor: seus centros de pesquisas ou institutos de criação e integração. Sem estes, os esforços institucionais cairão no vazio e não poderão adquirir a sua total plenitude.

...Nós, que fomos formados nos autênticos valores do Cristianismo ficamos sem entender esta crescente situação desumana, que aos poucos vai conduzindo as pessoas ao suicídio por omissão. Porque esta situação cria no universo da universidade uma solidão interior e um individualismo generalizado, práticas antagônicas com os princípios do Cristianismo.

Estamos presenciando uma divisão entre inteligência, razão e emoção. O preço pago pelos que querem lutar contra essa situação pode ser a esquizofrenia, causada pela impotência das mobilizações. Tudo isto gera uma profunda mutação no nosso cotidiano e no nosso relacionamento, vamos paulatinamente abandonando a ética da cooperação e substituindo-a pela ética da competição desleal.

Assim, o corpo universitário, alunos, professores, funcionários etc. isolado individualmente e responsável por si só, vê a própria vida e a morte perderem seu sentido comunitário.

Por isto, neste momento de indefinições perigosas, seria útil, antes de qualquer decisão, que os dirigentes soubessem cultivar a humildade e lembrassem daquele ideário antigo da educação, “quanto mais sabemos, mais necessitamos aprender”. E ainda neste contexto, não custa relembrar alguns versos da velha e nova canção de Milton Nascimento.


“Coração de Estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé.  



2 comentários:

  1. Pois é Mestre,assistimos a queda lenta das colunas erigidas por grandes pensadores da educação, e o último governo acelera a queda.

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  2. Professor Altair, ouvi de certa feita que " quando vc estiver preparado, o Mestre surgirá" , mas como estar preparado se diariamente o processo educacional é agredido, seviciado e colocado em cova rasa? Não tem como!!!! Seria necessário um chamamento monstruoso para levar ao engajamento, mas será que ainda existe esperança?
    Cylene Gama

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