sexta-feira, 15 de julho de 2016

O SONHO DA SEMENTE PEREGRINA 


Altair Sales Barbosa

Sou uma semente peregrina. Venho de um tempo muito distante. Minhas ancestrais, chamadas angiospermas, brotaram há pelo menos 100 milhões de anos, inaugurando um capítulo da história da Terra denominado Cretáceo. 

Dispersada inicialmente pelo vento, cobri o planeta de clorofila. Quando me originei, a Pangéia já estava fragmentada em Laurásia e Gondwana, há 70 milhões de anos. Nesta época, eu também fui para o Norte e para o Sul, como um tapete macio, esperando o pisoteio dos recém surgidos mamíferos. Algum tempo depois, o planeta fragmentou-se em unidades menores, formando os continentes atuais. A partir de então, fiquei isolada dos meus ancestrais e na nova terra me adaptei a cada ambiente. Adquiri feições particularizadas, dando origem a várias outras plantas, que hoje os botânicos classificam como espécies endêmicas.

Do alto das grandes árvores, pude presenciar a transformação do planeta. Presenciei o nascimento do homem,  e vi este esparramar pelo mundo, conquistando de forma acanhada, depois de forma violenta, os espaços que eu e minhas irmãs preparamos para ele e para os outros animais. Presenciei a extinção de vários parentes, nossas matrizes, pelas ferramentas e tecnologias que o homem foi inventando.        
Um belo dia entrei em estado de dormência e acordei com um pesadelo horrível. Sonhei que o planeta Terra havia ficado estéril e eu me encontrava dentro de uma grande estufa, num canto qualquer de uma estação espacial. No meio do meu sonho, cheguei a ouvir o som de uma viola. Senti naquele momento uma grande dor e chorei de saudade da terra. Acordei encharcada pelas lágrimas doloridas. Hoje, com os olhos lacrimejando, lhe imploro para me semear em algum cantinho fértil deste pequeno Planeta, antes que meu sonho se  torne realidade.


2 comentários:

Educambiental disse...

Chorei!!! Parabéns pela sensibilidade professor!

FlaThelma disse...

Sou uma apaixonada por esse Planeta... Sofro e 😢 com sua destruição..