domingo, 1 de agosto de 2021

OS CAMPOS DE INDAIÁ DO PROFESSOR AB’SÁBER

 

Altair Sales Barbosa

Nos subsistemas que compõem o Sistema Biogeográfico do Cerrado, existiam diversos ambientes particularizados, endêmicos, que caracterizavam fisionomias próprias, singulares, do ponto de vista da flora e da geomorfologia.

Assim eram os Covais ou Campos de Murundus, no sudoeste de Goiás, atualmente reduzidos a pequenos remanescentes ou totalmente desconfigurados. Também no sudoeste de Goiás, existia uma profusão imensa de cupinzeiros, que formavam os Campos da Bioluminescência.

No local, atualmente existem grandes plantações, que caracterizam extensas áreas com monocultivos, e até uma grande cidade denominada Chapadão do Céu, ocupa a outrora área, dominada pelos cupinzeiros.

Entre esses ambientes particulares podem ser incluídas as intermináveis Campinas dos chapadões ocidentais da Bahia. Também as Campinas salpicadas de gramíneas do hoje denominado Setor Universitário, em Goiânia, Goiás. E, na mesma cidade, os Campos de Macambira, local ocupado essencialmente pelo Setor Pedro Ludovico.

Outro exemplo de singularidade ambiental era constituído pelo Mato Grosso Goiano, cuja fisionomia vegetal constituída por florestas subúmidas ombrófilas, associadas a um solo de alta fertilidade natural, se estendia desde as nascentes do rio Meia Ponte até a cidade de São Miguel do Araguaia, em Goiás.

Esse ambiente era tão marcante que, na antiga divisão geográfica de Goiás, constituía-se numa Microrregião Homogênea. Atualmente, apenas alguns relictos desse ambiente existem; ainda assim, também desconfigurados.

Entre o município de Alto Paraíso em Goiás e Aurora do Tocantins, existiam, em grandes concentrações, os Campos de Arnica, hoje reduzidos, devido ao extrativismo sem controle.

Outro exemplo de ambientes singulares expressivos eram os Mini- Pantanais, inclusive, ostentando o mesmo tipo de fauna que caracteriza o grande Pantanal Mato-Grossense. Esses pequenos pantanais estavam situados no município de Acreúna em Goiás, entre os rios Turvo e Verdão, e ocorriam também entre os municípios de Alvorada do Norte e Flores de Goiás, na vertente do rio Corrente que deságua no Paranã.

Desde 1972, percorri com o professor Ab’Sáber vários desses ambientes peculiares, para entendermos as particularidades do Cerrado, principalmente aquelas referentes aos eventos passados, que modelaram fisionomias geológicas, geomorfológicas e botânicas. No caso do professor Ab’Sáber, ele procurava complementar dados colhidos em viagens anteriores. Infelizmente, a maior parte desse material se encontra inédito.

Um desses ambientes que mais impressionava o professor Ab’Sáber era aquele denominado por ele de Campos de Indaiá, situado no sudoeste de Goiás.

Todavia, antes de comentar sobre esse ambiente, quero dedicar algumas palavras ao grande mestre, embora reconheça que sejam desnecessárias, mas não custa ressaltar.

O professor Aziz Nacib Ab’Sáber foi um dos mais lúcidos intelectuais brasileiros dos séculos XX e XXI, tinha um senso de observação apurado, comum aos grandes pesquisadores.

Tudo era observado dentro de uma visão de globalidade, que tinha sempre como parâmetros espaço e tempo, mas não se detinha somente nas paisagens.

Era um crítico responsável e criterioso do sistema político brasileiro, dos modelos de universidades, das formas de ocupação do espaço, ocorridas ao longo do tempo, no território brasileiro.

Foi criador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC – e esteve presente na reunião de Arqueologia, em Goiânia, em 1980, onde ajudou de forma decisiva na criação da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB.

Os Campos de Indaiá ocupavam, de forma mais concentrada, o interflúvio entre os rios Doce e Claro, no município de Jataí, Goiás, onde ocorre uma certa mistura de rochas, de formações geológicas de idades diferenciadas, como os arenitos Botucatu e Bauru, intercalados com solos intemperizados da Formação Serra Geral.

Esta paisagem foi classificada por Ab’Sáber, quando da sua primeira viagem ao Centro-Oeste do Brasil, em 1946, acompanhado de Miguel Costa, em expedição patrocinada pela Fundação Brasil Central.

A fisionomia que caracteriza os Campos de Indaiá é uma paisagem geomorfológica ligeiramente plana, onde predomina de forma muito densa a ocorrência de tufos da palmeira campestre, conhecida pelo nome científico de Attalea geraensis.

Trata-se de uma palmeira, Família Arecaceae, com caule subterrâneo. As folhagens na forma de touceiras chegam a um metro de altura, acima da linha do solo, com copas de até três metros, que se sobressaem das vegetações herbáceas ali existentes. Sempre nas proximidades dos indaiás existe um cupinzeiro.

Era comum ver comunidades de tamanduás bandeira (Myrmercophaga tridactyla) no local. Segundo depoimento oral do professor Horieste Gomes, a quantidade de perdiz existente no local era tanta, que motivava caravanas de caçadores provenientes de São Paulo, que chegavam até o local para caçar este animal aos montes. Após abatidos, eram preparados ali mesmo e conservados em latas de banha e, depois desse processo, seguiam para abastecer restaurantes de luxo, na capital paulista.

A última vez que pude visitar esses campos, juntamente com o professor Ab’Sáber, foi em julho de 1975. Embora já modificado, o ambiente ainda mostrava certa singularidade e ainda observamos algumas famílias de tamanduás que ali sobreviviam.

Atualmente, este cativo ambiente não existe mais. No local só se veem plantações de canaviais e outras monoculturas. Parece que não, mas se penetrarmos além das aparências, logo constataremos os sinais dos desequilíbrios ambientais causados por essa situação.

Os escritos do professor Ab’Sáber estão por aí, nas bibliotecas, num livro, num arquivo etc. De certa forma sobreviveram. Quem sabe um dia teremos

tecnologias e conhecimentos suficientes para vencermos as entropias ambientais que provocamos. Caso contrário, seguiremos os caminhos das incertezas, até quando pudermos.


 


 

AS CRIANÇAS FORAM GENEROSAS, DESTA VEZ NÃO PODEMOS CULPÁ-LAS

 

Altair Sales Barbosa

Apenas teve início a estação seca nos chapadões centrais do Brasil e já começamos a sentir os sinais do que nos aguarda, num futuro próximo, quando esta estação atingir o seu auge. Mas, desta vez, não podemos colocar a culpa nas crianças. Na última estação chuvosa elas foram até generosas, me refiro às ações dos meninos El Nino e La Nina.

Então, por que se preocupar com escassez hídrica, estiagem severa, diminuição da vazão dos rios e outras complicações advindas dessas situações adversas. As respostas estão bem diante de nossos olhos, mas insistimos em querer não enxergá-las, isto porque, também, não nos interessa ter uma visão dos fenômenos de forma global. É mais fácil continuarmos apelidando o Cerrado de Bioma e, vez em quando, agregarmos um ou outro elemento para rechear ainda mais a confusão de um conceito simples, que surgiu em 1916, quando a ciência nem conhecia os princípios de funcionamento das placas tectônicas, como também não eram conhecidos os princípios da teoria do caos, e outros conhecimentos que emergiram a partir do avanço desses conhecimentos e que somente nos últimos tempos começaram a ser entendidos. É bem mais cômodo ficarmos cultivando conceitos antigos. A ciência é uma peça muito exigente, que fica o tempo todo cobrando de nós atualizações, em conceitos e conhecimentos emergentes, como se tivéssemos tempo de nos banhar nessa areia movediça e perseguíssemos os caminhos das águas, para verificar se esta evaporou ou se infiltrou nas camadas do solo.

A teoria da tectônica de placas trouxe um conceito revolucionário que teve consequências significativas e de longo alcance em todos os campos da geologia. Ela fornece a base das relações entre muitos fenômenos aparentemente sem relação. Assim, além de ser responsável pelas características da crosta da Terra, o movimento das placas também afeta a formação e a distribuição dos recursos minerais e influencia a distribuição e a evolução da biota mundial. A tectônica de placas pode demonstrar que todos os ciclos da Terra funcionam como um sistema, onde todos os elementos, atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera, agem como sistemas interrelacionados.

Para entendermos as diversas questões ligadas à diminuição drástica da vazão da maior parte dos rios do Brasil, bem como a diminuição dos reservatórios e o desaparecimento de centenas de cursos d’águas do Planalto Central Brasileiro, torna-se necessário compreendermos a dinâmica do Planeta Terra, ou seja, os fenômenos que se passam acima das nossas cabeças e aqueles que se encontram abaixo dos nossos pés.

Não podemos ignorar que a Terra é um planeta dinâmico e se encontra sempre em mutação, ou seja, as forças que atualmente nele atuam são as mesmas que sempre atuaram desde os primórdios.

Acima de nossas cabeças existe a atmosfera com diversas camadas, cada uma dessas camadas possui composições e dimensões diferenciadas. A penúltima camada é a Exosfera que se situa acima dos 500 km sobre nossas cabeças e constitui o espaço sideral. Envolvendo a Exosfera encontra-se um escudo protetor da Terra que se denomina Magnetosfera. Esse escudo protege o planeta Terra dos ventos solares.

Sabe-se que o sol irradia em todas as direções um vento de alta velocidade que varia de 300 a 900 km por segundo. Se parte significativa da Magnetosfera se romper e esses ventos em sua totalidade atingirem o nosso Planeta, tudo que existe será varrido da sua superfície, incluindo a água, que vai se evaporar, além de inúmeras outras consequências. A existência da Magnetosfera depende do equilíbrio magnético da Terra, que orienta por exemplo o movimento de rotação do Planeta. Este equilíbrio já foi minimamente afetado pelo menos por duas vezes durante a história evolutiva da Terra e causou transtornos imensuráveis.

Entretanto, enquanto isso não ocorre, trataremos de fenômenos menores, como por exemplo a primeira camada da atmosfera terrestre denominada Troposfera.

A Troposfera é a primeira camada da atmosfera que se situa dos nossos pés até uma altura média de 10 km. Atualmente essa camada é composta em média por 78% de Nitrogênio, 21% de Oxigênio, 1% de Argônio e outros componentes como: dióxido de carbono, vapor d’água etc.

A temperatura e a composição da Troposfera variam de latitude para latitude e de altitude para altitude, conferindo a cada lugar uma característica especial.

As correntes aéreas que trazem umidade, seca, calor e frio para os continentes circulam na Troposfera e variam ciclicamente. Por exemplo, durante o último glacial, situado entre 18.000 a 13.000 anos Antes do Presente, essas correntes modificaram quase que totalmente a face do Planeta, transformando lugares úmidos e temperados em desertos e áreas desérticas em áreas úmidas.

São vários os fenômenos que alteram a circulação aérea da Troposfera, mas citaremos apenas alguns, a título de exemplificação: o primeiro é a modificação da circulação das correntes marinhas, que de forma direta influenciam as correntes atmosféricas. As correntes marinhas podem modificar seu curso e temperaturas, mediante causas naturais: Glaciação, aquecimento das águas oceânicas, fenômeno conhecido como El Niño ou resfriamento dessas águas, fenômeno conhecido como La Niña.

Sabe-se hoje que correntes marinhas profundas e frias, que deslocam a 4 km de profundidade, oriundas da Groenlândia, circulam também pelos oceanos de forma lenta e aleatória, alterando a temperatura da água oceânica por onde passam.

Ainda acima dos nossos pés, acontece um conjunto de ações antrópicas capaz de modificar drasticamente o clima local e regional. Os exemplos mais clássicos são os desmatamentos e a crescente urbanização, esta exige a pavimentação de grandes áreas, impedindo a transpiração dos solos e a infiltração da água, formando ilhas de calor e zonas de baixa pressão atmosférica, que podem provocar transtornos imprevisíveis.

Mesmo em época recente, várias áreas foram afetadas por períodos de longas estiagem, que obrigaram as populações a migrarem para outros locais, deixando cidades inteiras abandonadas, o exemplo mais clássico é dos Maias no sul do México e Guatemala.

Abaixo dos nossos pés, está toda uma complexa estrutura composta pelas placas tectônicas e pelas camadas internas da Terra, a começar pelo manto até o núcleo. O manto da Terra, que se situa abaixo da crosta, local caracterizado pelas placas tectônicas, é constituído de matéria fluida. No manto se encontram as plumas e as superplumas, que formam as correntes de convecção, quando essas correntes quentes ou frias se aproximam da crosta alteram a temperatura das águas oceânicas para quente ou fria, que por sua vez influenciam as correntes marinhas, mudando a orientação e a composição destas, e assim por diante. Entretanto, com relação às questões ligadas à diminuição da vazão ou ao desaparecimento de cursos d’água de um local. Como isso é possível?

Num primeiro instante, torna-se necessário que sejam ressaltados alguns elementos da Hidrosfera.

A Hidrosfera é constituída por vários elementos: vapor de água, água subterrânea, água congelada nas geleiras, água dos oceanos e aquela pequena, mas importante, quantidade de água confinada nos canais da terra, denominada águas correntes. 97,2% da água existente no planeta Terra estão nos oceanos, 2,15%, sobre as massas continentais, mas congelada em geleiras especialmente na Antártida e Groenlândia, 0,83% de toda a água se encontra nos rios, nos lagos e nos lençóis subterrâneos.

Uma outra questão importante a ser considerada é que as correntes fluviais constituem sistemas dinâmicos que se ajustam de forma continua às mudanças naturais e às mudanças provocadas pelo homem. Mudanças climáticas afetam sem sombra de dúvidas a quantidade de água disponível.

Porém, por outro lado, a pavimentação das áreas urbanas aumenta o efêmero escoamento de superfície. E a retirada da vegetação nativa, em especial, as gramíneas e as herbáceas, diminui drasticamente o nível dos lençóis subterrâneos, responsáveis pela perenização dos rios.

Outro elemento importante a ser considerado é o que se denomina ciclo hidrológico.

Independentemente de sua fonte, o vapor d’água sobe para a atmosfera onde ocorrem processos complexos de formação de nuvens e condensação. Grande parte da precipitação mundial, 80%, cai diretamente nos oceanos e 20% das precipitações restantes caem sobre a terra, uma grande quantidade volta para o oceano pelo escoamento.

Todavia, uma pequena parcela dessas precipitações fica armazenada em lagos, pântanos, geleiras, ou penetra sob a superfície, formando sistema de água subterrânea. Todo esse sistema é interligado, mesmo a água liberada pelas plantas, através da transpiração, entra na atmosfera e todas as águas continentais acabam voltando para o eoceno, iniciando um novo ciclo hidrológico.

A água subterrânea é um reservatório de suprimento mundial de água doce. Como todas as águas, num ciclo hidrológico, a fonte definitiva da água subterrânea provém dos oceanos, mas sua fonte imediata é a precipitação que se infiltra nos solos e penetra nos poros desses solos, sedimentos ou rochas.

O lençol subterrâneo desempenha papel fundamental para a vida dos rios. Mas, para compreender a sua formação, alguns elementos são importantes.

Parte da precipitação cai sobre a terra e evapora e parte entra nas correntes e volta para o oceano pelo escoamento superficial. O restante penetra no solo. À medida que a água se aprofunda, uma parte adere ao material no qual se move e interrompe a descida. A parte que penetra, se acumula e procura preencher os espaços dos poros disponíveis. Dessa maneira são definidas duas zonas de acordo com o conteúdo dos espaços ocupados nos poros, pelo ar ou pela água: a zona de aeração e a zona de saturação. A superfície que separa as duas é o lençol freático. Uma vez saturado o lençol freático, de acordo com a porosidade das rochas, penetra nestas, formando o lençol artesiano ou aquífero. A perenização dos rios depende normalmente das águas dos dois lençóis. Entretanto, há locais em que os rios não são alimentados por aquíferos e somente recebem água do lençol freático. Neste caso o desmatamento pode eliminar o lençol freático, que também pode desparecer em função de uma estiagem prolongada.

Quando os dois fenômenos acontecem de forma simultânea, a vida do lençol é curta e o rio pode secar imediatamente. Isto acontece por exemplo com os rios do semiárido brasileiro e com a maior parte dos rios afluentes da margem direita do São Francisco, que só são alimentados pelo lençol freático. Alguns processos de desmatamento nesses locais já impedem a formação de novos lençóis e os rios que ali existiam deixaram de existir para sempre.

Esta é uma forma do desaparecimento de cursos d’águas, através da intervenção humana. Outro exemplo clássico de intervenção humana desastrosa se refere à transposição dos rios Amur-Darya e o Syr Darya, pela antiga União Soviética, para irrigar plantações de algodão.

Os dois rios citados eram os alimentadores da bacia endorreica do Mar de Aral. Consequência: o mar praticamente secou, deixando um solo com alto índice de salinidade, que permite somente uma espécie vegetal ali se desenvolver, além da poeira salgada provocar doenças, incluindo o câncer em mais de 30 milhões de pessoas, sem falar nas plantações de algodão que não vingaram.

O mesmo fenômeno está acontecendo no Brasil, com a transposição do rio São Francisco.

Um outro fator que faz com que vários cursos d’água desapareçam ou tenham sua vazão extremamente diminuída refere-se à retirada sem precedentes da cobertura vegetal natural do Centro-Oeste Brasileiro. Essa vegetação é responsável pela absorção das águas das chuvas e as deposita nas bacias de sedimentação intracratônica, formando os aquíferos, responsáveis pela alimentação, vida e perenização de todas as águas que vertem para a bacia hidrográfica Amazônica (margem direita), para a bacia hidrográfica do São Francisco, para a bacia hidrográfica do Paraná e para outras bacias hidrográficas menores independentes, como a bacia do Parnaíba, Jequitinhonha e Doce.

As águas desses aquíferos, durante milhões de anos, foram armazenadas nas rochas porosas dos arenitos Urucuia, Botucatu, Bauru, Poti, Aquidauana etc., que formam as bacias geológicas do Parnaíba/Maranhão, e do Paraná, que formam essas bacias intracratônicas.

Um cráton é uma grande superfície onde ocorre em diferentes profundidades, rochas graníticas bastante antigas, de idade Pré-Cambriana.

Os minerais que o compõem estão bem fundidos, impedindo a porosidade dessas rochas. Portanto as águas que correm sobre o cráton são do lençol freático. Como já foi dito, o desmatamento nestas áreas, fato que aumenta a insolação, e/ou uma forte estiagem, são fatores que exterminam com esses lençóis, impedindo o acúmulo de água para alimentar o fluxo corrente. No Brasil, há duas formações cratônicas significativas. O Cráton do São Francisco que abrange quase a totalidade da sua margem direita e pequena porção da margem esquerda e o Cráton do Amazonas que abrange sua margem esquerda mergulhando pela calha, indo atingir a margem direita, até a altura dos cursos inferiores de seus afluentes.

Entre esses dois crátons estão as diversas bacias sedimentares de idades diferentes. A maior extensão abrange as bacias geológicas do Parnaíba/Maranhão e Paraná.

Seu núcleo principal está coberto por cerrado, que é a vegetação que em função de seu sistema radicular absorve a água da chuva   a armazena nas rochas porosas dos aquíferos.

A partir de 1970, num novo modelo de organização territorial foi implantado no centro do Brasil, fato que contribuiu para que o cerrado entrasse num processo global de entropia e fosse gradativamente perdendo seus elementos essenciais, fauna, flora, cultura e, inclusive, suas reservas de água. Como a possibilidade de uma revitalização com espécies nativas não passa de uma hipótese longínqua, incluindo as milhares de espécies que foram extintas, sem que ao menos fossem conhecidas, a recarga dos aquíferos certamente não virá em breve. Portanto, o desafio da ciência é grandioso, se o desejo for o de não ressuscitar imensos desertos, que já caracterizaram a área, durante longos períodos do Mesozoico.