Quagga era uma espécie
de zebra garbosa e imponente de pelagem marrom clara, pernas esbranquiçadas com
tonalidades amarronzadas, listras pretas e brancas, da cabeça até a parte superior
do dorso. Nativa dos prados da África do Sul foi violentamente caçada tanto por
sua carne, quanto por sua pele. Desapareceu totalmente em 1872.
Por outro lado,
o mar de Aral situado na região desértica da Ásia Central, é outro exemplo
clássico de contínuo desastre humano e ambiental. O mar é alimentado por dois importantes
rios, o Amur Dar’ya e o Syr Dar’ya. Até o início do século XX, havia um
equilíbrio entre a água fornecida por esses rios e o índice de evaporação do
mar de Aral, que não tem escoadouro. A partir de então, a antiga União Soviética,
buscando tornar-se autossuficiente na produção de algodão, desviou as águas dos
dois rios para irrigar as grandes áreas para plantação. Esta iniciativa
provocou drasticamente, num ritmo crescente, a diminuição do volume de água do mar
de Aral, que se tornou um pesadelo ecológico e ambiental, para mais de 35
milhões de pessoas.
A medida que o
mar de Aral foi encolhendo, vastas áreas do seu leito, ficaram expostas. O
material em exposição contem grande quantidade de cloreto e sulfato de sódio,
elementos nocivos para as plantações. Além disso, o vento que sopra essas
terras, levanta o sal e a poeira que são carregadas para toda região do Aral,
causando imensos prejuízos à safra de algodão e à vegetação nativa restante. A
seca e a poeira salgada tem sido a causa de inúmeras doenças, incluindo o
câncer de garganta. A água potável tornou-se tão contaminada que muitas pessoas
sofrem de distúrbios intestinais.
Estes exemplos demonstram
que a extinção de comunidades animais e vegetais, bem como o desaparecimento de
rios, desertificação, mudanças climáticas oriundas de desmatamentos, chuvas ácidas,
desabamento de casas construídas sobre lixões, contaminação por lixo tóxico, vazamentos
de óleos etc, são fenômenos que o homem pode causar e que o afeta diretamente.
Entretanto, se ampliarmos o horizonte para além do tempo histórico ou para além
do tempo de aparecimento do gênero “Homo”, constataremos que estes fenômenos
são insignificantes para afetar a existência do planeta Terra. Porque a
Terra, não necessita do homem para continuar existindo, pode ser ferida aqui, ou
ali, dentro do conceito humano. Porém, no parâmetro do tempo geológico, sempre
arranjará meios de se recompor, recriar novas paisagens, até quem sabe,
melhores para seu equilíbrio planetário.
O ser humano
deveria descer do seu pedestal de onipotência e achar que é capaz de salvar o planeta.
Esta é uma visão ridícula, que só interessa aqueles que querem ridicularizar as
massas para que estas permaneçam na escuridão da ignorância. E assim, aceitem
passivamente, ensinamentos medíocres, covardes, com roupagem farisaica e economicista.
A Terra é um
planeta dinâmico, cujas forças vão muitíssimo além da capacidade humana. Com a
idade de 4 bilhões e 600 milhões de anos, a Terra é um planeta em constante mutação.
Essas mudanças evolvem tamanho, formato, inversão da polaridade magnética, distribuição
geográfica dos continentes e das bacias oceânicas, formação de cadeias
rochosas, geleiras, maremotos, etc.
A composição da
atmosfera e as formas de vida que hoje existem, diferem daquelas do passado. Podemos
visualizar os desgastes das montanhas pela erosão de geleiras, das águas, dos
ventos, etc. Da mesma maneira que observamos como se formaram cânions,
desertos, e outras paisagens ao longo do tempo. Erupções vulcânicas,
terremotos, deslocamento de placas tectônicas só demonstram o interior ativo do
planeta e rochas fraturadas e dobradas revelam o enorme poder das forças internas
da Terra.
Portanto,
vulcões, terremotos deslocamentos e acomodações de placas tectônicas, fenômenos
como El Niño e La Niña, orogenismo, subsidência, glaciação, até o efeito
estufa, dentro de um tempo pretérito, etc, não são fenômenos decorrentes das atividades
humanas na biosfera. Estes fenômenos sempre existiram no planeta, muito antes
do homem evoluir de um ramo especial de primatas e criar as tecnologias que
impulsionam o mundo moderno.
As forças que
hoje atuam na Terra são as mesmas que sempre atuaram desde as origens do
planeta. Certamente as condições
do futuro serão diferentes das atuais.
Se o modelo de
vida atual continuar sem revoluções significativas, não teremos certeza se os seres
humanos continuarão evoluindo. Da mesma forma, caso haja esta possibilidade,
paira dúvidas, sobre quais parcelas da humanidade alcançariam um futuro
distante e como seriam as formas dos nossos descendentes. O que não paira
dúvidas é que por mais de 4 bilhões de anos, várias transformações aconteceram
na Terra. Vulcões e terremotos ocorreram e deverão prosseguir ainda por muitos
milhões de anos.
A ciência tem
conhecimento suficiente para afirmar que os elementos radioativos existentes no
interior da Terra e que representam importantes fontes de calor, um dia, num
futuro, irão desaparecer. Desse modo, a energia geotérmica que movimenta o
interior da Terra irá extinguir-se. Como consequência, o campo magnético do planeta
deixará de existir, expondo a Terra à ação dos ventos solares, com suas radiações
mortíferas, e que podem nos alcançar com velocidades de 900 km por segundo,
varrendo do planeta toda forma de vida conhecida.
Com o término do
campo magnético, associado às atividades de vulcanismo e ao aumento do calor
oriundo do sol, a água da Terra irá evaporar, originando um planeta deserto. Se
estendermos nosso horizonte para um futuro mais longínquo, 5 bilhões de anos,
como estimam os astrônomos, poderemos entender que o Sol transformar-se-á numa
estrela gigante avermelhada que engolirá a Terra e o próprio Sistema Solar
desaparecerá.
O que se
pretende demonstrar com esses exemplos é que nós humanos deveríamos compreender
que muitos desastres naturais, estão muito além do nosso alcance.
É comum imaginarmos
que a extinção dos dinossauros, há 70 milhões de anos, foi uma imensa tragédia.
Na realidade foi uma tragédia. Entretanto, se comparada às tragédias ocorridas
no final do Paleozoico, se torna um evento pequeno. No final do Paleozoico há
250 milhões de anos, as catástrofes levaram à extinção mais de 90% da vida até
então existentes no planeta.
Lembramos com
frequência da última glaciação, que iniciou há 2 milhões de anos, e que teve
seu último avanço situado há 11 mil anos. Este fenômeno redesenhou a face
moderna do planeta Terra. Todavia, inúmeros fenômenos glaciais já aconteceram
no planeta ao longo de sua turbulenta história.
O ser humano
deveria parar de mentir para si mesmo. Isto faria um bem para toda humanidade. Porque é tão
difícil admitirmos a evolução? Será que admitir que somos produtos da evolução
nos obriga a confrontar vários fatores que preferiríamos ignorar?
Paisagens complexas
compostas de flora e fauna tão improváveis hoje em dia, já apareceram e
desapareceram da Terra. O homem é apenas um elemento na história do planeta, o
qual se desenvolveu muito bem sem sua presença, por centenas de milhões de
anos.
Se nós humanos
perdermos a flexibilidade para adaptarmos, também seremos extintos. Neste caso
outras espécies tomarão nosso lugar. Preencherão nossos nichos e seguirão com o
processo evolutivo.
Por fim, é preciso
termos consciência que nossas habilidades para controlar o curso dos eventos humanos
é uma ilusão. A confiança é adaptativa e muitas práticas culturais têm como uma
de suas funções a manutenção da confiança.
Os mitos dizem
que fomos criados para dominar a Terra, os rituais reforçam esta ideia, porém a
confiança como outros atributos pode também chegar a ser uma má adaptação. Isto
parece ser o caso da nossa confiança no crescimento explosivo da população
humana. Confiamos que problemas como modificação substancial da atmosfera; que
a redução significativa da biota natural, que a exploração desenfreada dos
recursos não renováveis; que a injeção massiva de materiais tóxicos no ar, no
solo, no mar; que o desmatamento descabido para expandir as fronteiras
econômicas; que a transposição de rios frágeis; que o represamento
inescrupuloso das águas correntes, etc, confiamos que tudo isso, traz
ambientalmente problemas simples, que podem ser resolvidos bem e quando
quisermos.
Se esta
ideologia continuar guiando as pessoas que pensam no efêmero e iluminar os apóstolos
de religiões que manobram com ar de onipotência, em nome de Deus, grandes
massas populacionais para construção de impérios dourados, a ignorância, filha
desse processo, será responsável por conduzir cada vez mais o povo para os
subterrâneos da incompetência, podando-lhe a consciência e a criatividade.
Aí então, será
apenas uma questão de tempo para ouvirmos o último relinchar das zebras, primas
da Quagga, que às duras penas, ainda sobrevivem nas savanas africanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário