sábado, 16 de fevereiro de 2019

UM BERÇÁRIO DE FÓSSEIS



Altair Sales Barbosa

Fóssil é uma palavra oriunda do latim, que atualmente pode ser entendida como todo resto orgânico, ou evidencia direta de sua existência, cuja idade limite é o inicio do Holoceno, ou seja, onze mil anos.

Os fósseis são objetos de estudo da paleontologia e possuem inúmeras variações, desde indivíduos minúsculos, como pólens, foraminíferos, ou estruturas como os estromatólitos que foram os primeiros fabricantes de oxigênio, até vertebrados gigantes.

Para que haja a fossilização torna-se necessário um conjunto de fatores que permite a ocorrência da diagênese, que é a silicificação ou mineralização das partes orgânicas. Mas, há outras formas de preservação sem que haja a diagênese. Por exemplo um inseto preso num âmbar, ou um ser orgânico preservado dentro de um bolsão de petróleo, são exemplos de fossilização natural sem que haja a diagênese. A mumificação de modo geral, não se trata de fossilização, mas sim de um habito cultural.

 Mudando um pouco a rota do raciocínio, nossa educação superior, se sustenta no fato de que não se fazem pesquisas, porque não tem laboratórios.  Ou, simplesmente acreditam que o pesquisador é aquele que possui um titulo de mestrado e ou doutorado e investem muitos recursos neste sentido. Não maioria dos casos o resultado é negativo. Isto porque para ser pesquisador, são necessários apenas três requisitos básicos: senso de observação, criatividade e vocação. Claro que o laboratório é um suporte de peso. Mas, como sempre digo se prendermos um pesquisador numa sala vazia, ele sempre acha algo para investigar, diferentemente de outros, que acabam em depressão. Se ao senso de observação, criatividade e vocação, se juntar a titulação, melhor ainda.

Vou citar um exemplo de laboratório vivo, que pode abrir a porta de vários horizontes. Quase todos os dias cruzo o rio Meia Ponte, em Goiânia e fico observando que em época de chuva abundante, sempre se formam pequenas lagoas marginais, geralmente afastada uns cem metros do leito principal do rio. Observo também que quando as lagoinhas pouco profundas têm água, há sempre um bando de garças se alimentando de pequenos peixes e outros animais. Também observo que as tardezinhas, um ou outro pescador solitário fica no local arriscando a sorte. Quando o período de chuva é mais prolongado ou mais abundante, vejo que as pequenas lagoas se mantêm perenes por mais tempo.

Passado algum tempo, vem o período da seca e imediatamente estas lagoas desaparecem deixando exposta à superfície um solo argiloso todo trincado. Quando se peneira ou escava esta terra, sempre se encontram preservados, esqueletos de peixes, anfíbios e até aves. Claro que este material, não se classifica como fósseis, mas representa a fauna que no local habitava até bem pouco tempo. E acima de tudo mostra como se dar o processo inicial de fossilização, servindo assim como um laboratório, para aqueles que estudam Geociências e Biologia.

Mas o local pode ir além dessas informações. E, se constituir num espaço onde inúmeras pesquisas possam ser desenvolvidas. Por exemplo, um professor juntamente com seus alunos pode aprofundar as escavações na área através de um corte estratigráfico pequeno 2x2m e, nesse local desenvolver suas aulas práticas. Utilizando metodologias trabalhadas pela paleontologia, arqueologia, geologia, geografia, etc.

Aprofundando mais a escavação além do superficial, os professores e alunos irão encontrar material mais antigo, além de entenderem os processos de sedimentação ocorridos na área. Irão encontrar ossos de peixes e outros animais, fossilizados ou não, compará-los com os restos atuais e poderem constatar se houve modificação faunística no período. Também poderão entender a dinâmica do rio, colherem sedimentos, datá-los e efetuarem análises polínicas,  com o objetivo de contatarem se houve mudança na vegetação no decorrer do tempo.

Dessa forma, salientando apenas alguns pontos de uma pequena lagoa marginal, pode-se demonstrar que um local com essas características, pode-se transformar num grande arquivo de pesquisas, que guarda informações importantíssimas de âmbito regional, mas que também pode demonstrar fenômenos globais.
Mas para que tudo isto ocorra, o professor deve ser valorizado em todos os aspectos, com incentivo, recursos e motivação. Isso porque a motivação é a mola mestra da criatividade e a falta de criatividade sem nenhuma sombra de dúvida, é a antessala da alienação.



Um comentário:

Micaelle Juliano Vieira, mklufg@gmail.com disse...

O interessante é que podemos realizar destes lugares, lagoas marginais e temporárias, um laboratório a céu aberto em um local extremamente atraente para os alunos cansados de sala de aula, quadro, giz e apagador. Excelente reflexão sobre como observar espaços não utilizados pela educação que poderia dinamizar o processo de entendimento do espaço e suas interligações com o clima, o tempo, a vegetação, os animais, o ciclo da vida, o ciclo dos rios, a dinâmica geológica. Percebi que devo realizar trabalho de campo com os alunos em seus locais do bairro, exemplo é de uma nascente que eles me relataram da existência, ou resistência, persistência em ainda existir, em ainda produzir água para a população local. Obrigado prof. Altair pela inspiração!