sábado, 28 de julho de 2018

INSTITUTO ALTAIR SALES


Universidade Aberta do Cerrado

Altair Sales Barbosa

O Instituto Altair Sales é uma instituição de natureza científica, cultural, educativa e estratégica, criado para dar suporte administrativo a Universidade Aberta do Cerrado, bem como os projetos por ela propostos ou em fase de desenvolvimento.

Foi albergado inicialmente pelo Centro Cultural Cara Vídeo, onde aconteceram as primeiras reuniões, contando sempre com a colaboração e boa vontade de Maria Delma Costa, Pe. Sergio Bernardoni e D. Tomás Balduino. Com a saudosa ausência dos dois últimos, o grupo pensante buscou amparo nos empreendimentos da Fazenda Santa Branca, sempre contando com entusiasmo e apoio do Prof. Jeremias Lunardeli. Em seguida a ideia foi abraçada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Entretanto, ainda não havia encontrado força suficiente para deslanchar. Isto veio a se concretizar quando à estas instituições consideradas parceiras se juntaram a Associação dos Professores da PUC de Goiás, principalmente através do seu Projeto Memórias e do Movimento SOS Cerrado, que integrando profissionais competentes em diversas áreas, começaram a dar um corpo jurídico e administrativo, resultando na criação de uma associação denominada Instituto Altair Sales.

UNIVERSIDADE ABERTA DO CERRADO - UAC
A UAC foi pensada para funcionar como centro irradiador de saberes e inovador na área do empreendedorismo educativo e sustentável.
Neste sentido, os saberes se revestem em algo concretamente pluridisciplinar, que leve em consideração as vocações regionais, mas sem nunca perder a visão do global, dentro de uma concepção sistêmica. É uma nova visão de universidade, que também abrange universos e diversidade. É informal, aberta, no sentido de acolher saberes formalizados, elaborados nas ditas academias e saberes informais dos doutores e mestres, ou guardiões de fato, sempre que possível proporcionando a integração entre estes saberes. Ou seja, o saber dito erudito e o saber dito popular. Portanto suas atividades são infindáveis, mas sempre no sentido de oferecer frutos educativos que contribuam para a busca de uma cidadania plena e da sustentabilidade planetária. É essencialmente inclusiva, acolhendo neste sentido, toda gama de saberes regionais e incorporando os saberes universais, recuperando seletivamente o conhecimento acumulado através dos tempos e colocando-os para favorecerem a superação constante de situação de subdesenvolvimento e impulsionando os agentes sociais, na busca de processos educativos, que resultem em incentivo à criatividade à pesquisa e consequentemente na busca de soluções para os problemas do mundo moderno, de modo global, sociais e ambientais,  sem que haja a separação dos saberes.

Assim, os profissionais envolvidos nos inúmeros projetos da UAC, devem estar comprometidos com a realidade circundante, ajudando criar as condições de desenvolvimento e de crescente bem-estar das populações. Sua participação no esforço da comunidade para superar a fome, a doença, a ignorância, a miséria, o sofrimento, o atraso e a marginalização, ajudando imprimir à ação planejada maior objetividade e eficiência. Engajando-se, desta maneira, no esforço de crescimento econômico social da região em que vive e trabalha, estes profissionais, ajudarão a robustecer um novo conceito de processo produtivo e a consequente distribuição de renda.

A UAC é mantida pelo Instituto Altair Sales e tem seus projetos direcionados preferencialmente para o Sistema Biogeográfico do Cerrado dos chapadões centrais da América do Sul, não só em virtude de sua biodiversidade biológica e cultural apoiada numa diversidade geo-estrutural sui generis, mas também porque se trata da matriz ambiental brasileira, mais incompreendida e  por esta causa,  mais degradada, fato que já está pondo em risco as outras matrizes ambientais do Brasil.

Todas as atividades da UAC, que serão desenvolvidas através de projetos, alguns já estruturados e outros novos, que possam surgir de acordo com as exigências imediatas. Entretanto, todos os projetos devem se enquadrarem dentro de uma diretriz norteadora, que sempre buscará uma educação eficaz e iniciativas científicas e culturais guiadas por princípios éticos que ajudem construir novas mentalidades, críticas e criativas.


Os projetos se enquadram dentro dos seguintes eixos temáticos:

ESCOLAS SUSTENTÁVEIS  
O objetivo é implantar nos municípios modelos de práticas educativas que estimulem e trabalhem de forma interdisciplinar o conceito de sustentabilidade sem dissociar o ambiental do social.


ANTROPOLOGIA GEOGRÁFICA

O objetivo é a produção, divulgação e circulação do que se denomina almanaques, que consistem em pequenas obras editoriais que trabalhem temas regionais variados e multidisciplinares. Cada almanaque é acompanhado de um texto e um documento sonoro ou audiovisual, para ser explorado, cultural, científico ou educativamente pelo agente educador.

CURSOS OFICINAS E EVENTOS
Oferece um conjunto de serviços, diluídos na forma de oficinas, cursos e eventos, ministrados por pessoas com formação acadêmica ou não, tal como mestres populares, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, artesão e tantos outros portadores de saberes e habilidades.

FÁBRICA PEDAGÓGICA
Oferece um conjunto diferenciado de material didático-pedagógico, que tem como objetivo ilustrar e complementar as atividades de ensino-aprendizagem.
O material é representado por coleções a saber:

Coleção Didático Museológica - representada por cenários ilustrativos de diversas áreas do conhecimento.
Os cenários são montados por especialistas, artistas e artesãos, em caixas de madeiras com frente de vidro, tendo a opção também de caixa de papelão, sempre em três dimensões e em escalas  apropriadas.
Este material serve para a escola montar mini-museus, laboratórios, ilustrar atividades em sala de aula, além de despertar a criatividade.
Os temas cenográficos abrangem desde a origem do universo, evolução da vida e o cerrado em sua totalidade.

Coleção Mapas e Painéis Complementares - representada por mapas e painéis com conteúdos científicos e culturais. Servem para ilustrar atividades escolares ou complementar exposições definitivas e temporarias.
Abrange temas como: aves do cerrado, répteis, peixes, mamíferos, bacias hidrográficas, ocupação humana e outros temas relevantes, além de dados biográficos ou explicativos, quando usados em exposições temporárias.

Coleção Ciência em Audiovisual – representada por documentários, elaborados com conteúdo didaticamente sistematizados, onde temas complexos são tratados de forma simples sem todavia ser banalizados.
O material será editado e narrado em português, com trilhas sonoras originais. A duração varia de 10 a 15 minutos e acompanha estojo com encarte.
Os temas oferecidos giram em torno do Sistema Biogeográfico do Cerrado.

Coleção Brinquedos Cantados - representada por documentos sonoros acompanhados de cartilhas, com conteúdo musicais, lúdicos e teatrais muito bem elaborados.
É um tipo de material que pode ser utilizado em qualquer nível educacional, bem como   em outras ocasiões, que não aconteçam  especificamente em   sala de aula, tais como reuniões empresariais, políticas, religiosas etc.

MUSEUS E PARQUES DE CIÊNCIAS
Trata de um programa representado por projetos específicos elaborados por técnicos, professores e artesãos altamente qualificados, visando a implantação de Museus e Parques de Ciências. Sua concretização se dará através da solicitação e negociação com instituições públicas e privadas, a nível municipal estadual e federal.

EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL
Consiste na implantação de fábricas e oficinas para produção de produtos, baseados nos recursos nativos do cerrado.
Envolve uma gama de iniciativas como fábrica de picolés, bolachas, bolos, tintas ecológicas, essências, sabonetes, artesanato mineral e vegetal etc. Sendo estes empreendimentos frutos de projetos e parcerias e específicas.



PARQUE TEMÁTICO
Representado por projetos que tem por finalidade a representação em espaços especiais ou artificializados a exposição de temas relevantes para a compreensão do Cerrado.
Atualmente está sendo proposto a execução do Parque Temático Brasil, que é um projeto de cunho didático, pedagógico, histórico, geográfico e antropológico, que procura utilizar de recursos audiovisuais em três dimensões e animações para demonstrar os diversos ciclos de ocupação do território brasileiro e as consequências dessa ocupação.
Além dos recursos audiovisuais, outros podem ser utilizados, como por exemplo as maquetes, quando o tema for montado em local fixo.



EDUCAÇÃO MAMULENGA NO CERRADO
Abriga projetos que tem como objetivo divulgar conteúdos diversos, utilizando-se para tal, historias, contos e personagens na forma de bonecos produzidos artesanalmente.
O conteúdo é composto por uma cartilha, com kit sonoro e vozes dos personagens e toda trilha sonora. Também cada projeto contém um kit para montagem de um palco em miniatura, onde o conteúdo é desenvolvido.
Acompanha também a cartilha, os personagens integrantes da história ou conto.

PROJETO CAMINHOS DO CERRADO
Será desenvolvido através de um site, que utiliza como ferramentas de divulgação o facebook, linkedin youtube e um blogger.
O tema básico que norteará os assuntos refere-se ao cerrado brasileiro, dentro de uma perspectiva educativa. Serão divulgados conhecimentos fundamentados num bom embasamento científico, constantemente atualizado.

A divulgação acontecerá de duas formas:
A primeira forma será aberta gratuitamente ao público em geral interessado que poderá interagir pelas redes sociais;
A segunda forma será divulgado através de cursos específicos, não gratuitos, visando uma formação mais aprofundada.
Os cursos serão apresentados em módulos e divulgados na forma de aulas dinâmicas, com narradores, trilhas sonoras e um professor.


PROJETO ARTESÃO -  DO EDUCADOR AO EMPREENDEDOR
Consiste na congregação de várias subprojetos que tem por objetivo colocar no mercado brinquedos e souveniers educativos.

 ENCICLOPÉDIA VIRTUAL DO CERRADO
O projeto consiste na organização de um portal que divulgará informações fidedignas acerca do que se denomina Sistema Biogeográfico do Cerrado, dentro de um eixo epistemológico que permite a compreensão do que significa ser “uma nova civilização tropical” e ao mesmo tempo motive a criatividade e a prática de uma pedagogia inovadora e até revolucionária.


Essas informações serão apresentadas na forma de:



Almanaque Educativo- que engloba literatura regional, mitos, causos, peças teatrais e textos avulsos sobre o cerrado e temas afins;

Artigos Científicos- com dados sobre o cerrado abrangendo todas as áreas do conhecimento;

Coleções Científicas- revista com temas mais elaborados sobre o cerrado, abrangendo também diversas áreas do conhecimento;

Documentos de Pesquisa- arquivos digitalizados de diversos pesquisadores que desenvolveram ou desenvolvem trabalhos nos domínios do Sistema Biogeográfico do Cerrado;

Músicas do Cerrado - grande acervo sonoro autoral e folclórico de músicas com conteúdo educativo capaz de sensibilizar a capacidade criativa de educadores e educandos, através do diálogo;

Vídeos- divulgação de documentos audiovisuais e produção de novos, acerca de temas importantes para o conhecimento do Sistema Biogeográfico do Cerrado. O objetivo é disponibilizar material que possa ser utilizado na dinamização do processo pedagógico;

Entrevistas - coletâneas de entrevistas e reportagens jornalísticas em diversas épocas e com pessoas variadas, tratando de temas específicos do cerrado ou temas gerais relacionados;

Museu Virtual do Cerrado - com imagens sons e narração contando toda a história evolutiva do cerrado. A narração se destina mais aos deficientes visuais, da mesma forma que terá uma explicação em libras para os deficientes auditivos. 



AINDA O VELHO CHICO




Altair Sales Barbosa
Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico do Estado Goiás
Pesquisador do CNPq

A Controladoria-Geral da União (CGU) realizou uma auditoria no Projeto de Transposição do Rio São Francisco e divulgou recentemente seu relatório.
O documento merece algumas considerações:

A obra da transposição do Rio São Francisco sempre teve um viés muito mais político que social ou científico. O empreendimento, que envolve as grandes empresas construtoras e as grandes empresas de engenharia elétrica do Brasil, tem na sua base um alicerce falso, pois fala que seria realizada para atender as necessidades das populações rurais, cujas produções agrícolas e criações de animais padecem na época da estação seca.

Na realidade, este quadro continua e foi acentuado com as obras da transposição. O alicerce é falso, porque esconde desde o início o real propósito da transposição, que era patrocinar grandes projetos de irrigação dos grandes latifundiários do Nordeste, padrinho e patrocinadores dos coronéis da política regional, cujo modelo é o mesmo desde o início da colonização.

Portanto, o relatório da CGU, sobre a sustentabilidade da transposição do rio São Francisco não traz, para os mais esclarecidos, nenhuma novidade. Todos os estudiosos da bacia do São Francisco, bem como os conhecedores da dinâmica do rio, alertaram através de audiências, publicações e movimentos, quanto aos riscos da execução desse projeto.

Infelizmente, a classe política se fez surda, não deu ouvidos. Só não ficou muda porque expressava as opiniões de burocratas “geniais” que os alimentavam com argumentos surgidos entre quatro paredes e totalmente desprovidos de conhecimentos concretos.

O relatório da CGU, que agora critica a falta de planejamento para garantir a manutenção e sustentabilidade, teria que ser convincente e questionador antes de as obras iniciarem. Teria que ser ouvida a comunidade científica brasileira, teria que conhecer a dinâmica dos rios do Cerrado e sua realidade, também deveria ser conhecida a realidade e a experiência dos ribeirinhos.

Infelizmente, a classe política se fez surda, não deu ouvidos. Só não ficou muda porque expressava as opiniões de burocratas “geniais” que alimentavam seus integrantes com argumentos surgidos entre quatro paredes e totalmente desprovidos de conhecimentos concretos.

No entanto, o relatório também traz falhas horríveis em relação ao conhecimento de toda a bacia do São Francisco. Foca só em problemas locais, não tem visão da totalidade.

Todo trabalho de planejamento ambiental e organização do espaço que não leve em consideração a história evolutiva dos elementos envolvidos e que não considere as vocações regionais traz como consequência problemas de difíceis soluções, alguns irreversíveis.

Uma vez surgidos tais problemas, procuram-se soluções paliativas como tentando curar uma ferida apenas cobrindo-a com um esparadrapo. Como é o caso da resolução ANA (Agência Nacional de Águas) 1043, de 19/06/2017, denominada “Dia do Rio”, cujo objetivo é reforçar as ações que vêm sendo adotadas para preservar os estoques nos reservatórios da bacia do rio São Francisco.

A resolução determina que as captações de água da bacia sejam proibidas todas as quartas-feiras, exceto para abastecimento humano e animal.

A resolução da ANA deixa uma brecha ao não incluir de forma absoluta os corpos hídricos que não são considerados como domínio da União, mas que integram a bacia do São Francisco e são vitais para a perenização deste rio. Embora deixe claro que serão feitas articulações com os estados e comitês da bacia, sabemos pela prática que essas medidas são inoperantes.

Aparentemente, essa medida, que estabelece o dia do Rio, parece boa. É, mas não é. Ao proibir a retirada da água em alguns trechos específicos por empreendimentos agropastoris e industriais, a resolução visa preservar água para os reservatórios, que por sua vez irão alimentar a geração de energia e outras defluências danosas, como é o caso dos canais da transposição.

Portanto, se penetrarmos além das aparências, vamos notar que a resolução deixa falhas em não entender a bacia hidrográfica dentro de sua totalidade, da mesma forma que deixa dúvidas quanto a quem, na realidade, serão os beneficiados por tais medidas.

Outro ponto obscuro é a restrição aos cursos d’água superficiais, demonstrando total desconhecimento dos ciclos hídricos regionais, pois não faz menção às águas subterrâneas, tão ou mais importantes que as águas superficiais. Parece que o ciclo hidrológico se restringe às chuvas, o que não é verdadeiro. Portanto, é importante considerar a utilização das águas subterrâneas nos processos de irrigação, efetuados através de poços artesianos.

A resolução que cria o dia do Rio é um exemplo claro da falta de planejamento e de conhecimento dos processos que envolvem o rio São Francisco. Também pode ser citado como exemplo de falta de planejamento a ausência de conhecimento da ocupação humana regional.

Em 1972, no Primeiro Simpósio sobre o Cerrado, já chamávamos a atenção para a preservação do Chapadão Ocidental da Bahia, até o limite com as cristas do Bambuí, hoje limitando com os Estados do Tocantins e Goiás. Pois as águas subterrâneas naquela época ali existentes seriam uma grande reserva de água potável para o Brasil.

Mas não foi isto que aconteceu. Por serem consideradas erroneamente “terras devolutas”, o governo federal as repartiu para grandes empresários nacionais e internacionais, que recebiam no mínimo 25.000 hectares – e a única coisa que deveriam dar em troca era o desmatamento da região. Assim, por falta de conhecimento e de planejamento adequado, começou essa nova ordem territorial, que em pouco tempo traria um quadro irreversível de prejuízos ambientais e sociais para a região.

No caso específico dos alimentadores do rio São Francisco, alguns nascem em Goiás, como é o caso da Lagoa Feia, no município de Formosa, que contribui com vários afluentes do rio Paracatu. Outros nascem no Jalapão, em Tocantins, caso do rio Preto, mas a grande parte nasce no Espigão Mestre, início das campinas, baianas, mineiras e piauienses.

Pois bem, com a implantação deste novo modelo de organização territorial iniciou-se o maior processo de desmatamento no Brasil, feito a correntões. Foi só uma questão de tempo para que as nascentes, não só dos córregos, mas também dos rios, começassem a migrar das partes mais altas para as mais baixas, e alguns córregos secaram totalmente.

Por que isto aconteceu? Porque sem a vegetação nativa a água da chuva não penetrava mais como anteriormente e não recarregava os aquíferos, e estes foram baixando de nível, num processo contínuo. Embora o índice pluviométrico permanecesse o mesmo.

O curioso nesta situação é que ainda não haviam sido desenvolvidas tecnologias para a correção completa dos solos regionais, por isso as plantações iniciais, com eucalipto e pinheiros, não deram certo. Tempos depois é que foram aperfeiçoadas as tecnologias que permitiram o plantio de várias espécies, utilizando-se para isto calcário específico, muito adubo químico e uma quantidade imensa de agrotóxicos.

Muitos proprietários abandonaram as iniciativas ou venderam as terras para outros grupos de empresários, que, com a utilização de novas tecnologias, foram-se apropriando de áreas ainda maiores. Essas tecnologias, associadas à época a uma fartura de água, logo permitiram o avanço das fronteiras que cada vez produzia mais e despertava a ganância de muitos produtores, que foram diversificando suas culturas.

Com a expansão da exportação, esse processo tornou-se uma corrida incontrolável, atraindo para o local um capital dinâmico e predador, utilizando como discurso o enriquecimento fácil e a fartura de empregos. Ambos os fatores não aconteceram, primeiro porque os grandes proprietários, que não conheciam a região, expulsaram das terras as pessoas que tradicionalmente as usavam sazonalmente para a criação de animais bovinos e equinos.

Num segundo momento, com a mecanização, tirou do campo aquelas pessoas que acreditavam num emprego duradouro. Os empregos tornaram-se sazonais e eventuais, sem carteira assinada e sem garantia. Num terceiro momento, comunidades existentes nos gerais, que praticavam a agricultura familiar foram totalmente desestruturadas.

Esse fenômeno gerou uma situação esdrúxula, pois os camponeses, ao serem expulsos das terras, foram-se agregando ao redor dos postos de serviços, implantados ao longo das rodovias, para dar sustentação aos novos empreendimentos. Os homens trabalhavam irregularmente em qualquer tipo de serviço para sobreviverem, as mulheres mais vividas trabalhavam como domésticas e as mais novas foram-se prostituindo, nos dinâmicos postos de serviços que da noite para o dia se transformavam em verdadeiros polos urbanos.

Só para citar o exemplo do oeste da Bahia, vejam o caso da cidade de Luiz Eduardo Magalhães, que há bem pouco tempo era só um posto de gasolina; vejam Roda Velha, que era somente um ponto de parada; vejam o exemplo de Rosário do Oeste, que até ontem era somente Posto do Rosário, e por aí vai.

Portanto, os rios foram secando em função do desmatamento, o desaparecimento de córregos menores e lagoas já vem acontecendo desde início da década de 1980. Eu mesmo levei à região várias emissoras de televisão de nível nacional e internacional, alertando para a situação. Foram mais de 16 programas a nível nacional e internacional.

O grande poeta, escritor, gênio e músico Elomar Figueira de Melo já alertava, através de suas crônicas musicais, o que estava acontecendo no Sertão-de-Dentro, como ele denomina os Gerais, mas os políticos do litoral nunca se atinaram.

Outra coisa importante a salientar é que as cidades e dezenas de povoados ao longo do Corrente foram o berço de pessoas de expressão internacional, intelectualmente falando, como o escritor Ozório Alves de Castro, que inspirou Guimarães Rosa; como o escritor, educador e cientista político Clodomir de Morais, o único brasileiro a desfilar em carro aberto com Yuri Gagarin, além de criar várias Universidades mundo afora; como Mestre Guarany, criador das imortais carrancas do São Francisco; como Raimundo Sales de Correntina, exímio inventor.

Essas pessoas, só para citar algumas, aprenderam observando os rios que passavam. Por isso o rio, para essa imensa população, é muito mais sagrado que se imagina. E a manifestação e a revolta do povo de Correntina, acontecida recentemente nas fazendas do rio Arrojado, já estava escrita nas estrelas, como nos canta Tetê Espindola.

E, se providências não forem tomadas no sentido de devolverem à população o pouco que lhes resta de mais sagrado, outras manifestações semelhantes acontecerão nas regiões do Cerrado, pois todos nós padecemos do mesmo mal.

Outra coisa a frisar não é a falta de chuvas que provoca tal situação, e sim o rebaixamento dos aquíferos. Além do que, as águas das chuvas que precipitam encontram o solo desprotegido, o que faz com que o escoamento seja mais rápido e o transporte de sedimentos aumente de forma desproporcional, avolumando-se o assoreamento.

É o início do fim...
Para finalizar, muitos me perguntam: o que tem que ser feito agora?

Para responder esta questão eu teria que enumerar vários pontos, o que tomaria muito espaço e não é este o caso no momento. Mas construir um caminho para fortalecer ou implantar uma educação criativa e a pesquisa que leve em consideração as vocações regionais pode ser a agulha da bússola. O prejuízo já ocorrido, este é irreversível, dentro dos parâmetros de conhecimento que atualmente possuímos.