sábado, 23 de dezembro de 2017

A SOBERBIA E O JARDIM DA HUMILDADE


Dedicado a Honorato Ribeiro dos Santos 
de Carinhanha

Altair Sales Barbosa

Diz uma antiga lenda que quando esteve na Terra, Jesus usou seus poderes para conhecer todos os ambientes do planeta. Chegando ao cerrado, ficou tão impressionado que escolheu esse local para fazer um jardim. Assim nasceu o Jardim da Humildade. Era lá que Jesus se refugiava para cultivar a sabedoria.

Naquela ocasião um homem chamado João, de boa situação econômica, ao ouvir Jesus pregando ficou impressionado com tanta sabedoria. Foi então que aproximando-se de Jesus, o convidou para almoçar em sua fazenda.

Ao chegar o dia do almoço, João pediu aos criados que preparassem uma rica e variada refeição, pois iria receber em sua casa um homem muito sábio.

... João, ansioso, não via o tempo passar. Olhava para o horizonte à espera de Jesus, mas Jesus não aparecia.

Certo momento, um pouco depois do tempo combinado, João avista um mendigo vindo em direção à sua casa.  Ao aproximar-se, o mendigo, dirigindo-se a João, pede um pouco de comida. João ordenou aos criados que lhe preparassem um prato e dirigindo-se ao mendigo disse:

- Aqui está sua comida, pode saciar-se. Só lhe peço que assente no toco, ali no canto do quintal, porque hoje estou esperando uma pessoa muito especial para almoçar comigo!

O tempo foi passando e nada de Jesus aparecer. João, angustiado de tanto esperar, perdeu a esperança e ordenou aos criados que atirassem a comida aos porcos, pois seu convidado não mais viria.

Meses depois, indo à cidade, João encontra novamente Jesus falando ao povo. Espera a pregação terminar, se aproxima de Jesus e diz:
- Que grande desfeita a sua; eu o convidei para almoçar, fiz um banquete e você não apareceu!
Jesus então lhe falou:

- Eu fui João e fiquei muito agradecido pela comida. Você ordenou aos criados que me servissem numa vasilha e pediu-me para eu assentar no canto do seu quintal, alegando que naquele dia iria receber um ilustre convidado...

A lenda ainda ecoa pelos quatro cantos do mundo, sussurrando, pela voz dos ventos, que humildade e sabedoria sempre andam de mãos dadas.  



sábado, 9 de dezembro de 2017

AS CHUVAS CHEGARAM AO CERRADO


Altair Sales Barbosa        

Iniciou a estação das chuvas, a atmosfera certamente ficará mais limpa das poeiras, das fuligens oriundas das últimas queimadas, o calor será amenizado e até os rios começarão a ter mais águas, algumas represas iniciarão a retomada de suas reservas e assim por diante. Essas pequenas amenizações farão até que esqueçamos que há bem pouco tempo estávamos vivenciando um período caótico de seca e assim, a vida continua...

As águas que enchem os rios, logo vão parar no mar, aquelas que precipitam sobre as áreas urbanas vão escoar rapidamente e terão suas chances diminuídas para infiltração nos solos, porque esses se encontram impermeabilizados pelo asfalto. Logo surgirá um pequeno veranico e este será capaz de despertar novamente nas memorias, de que os rios estão secos e que temos que enfrentar novamente a falta d’água. Termina o veranico e tudo se apaga das memórias. Tudo parece voltar ao normal. Até que a estação seca chegue novamente, aí recomeçam movimentos, seminários, críticas, audiências públicas etc. E assim, o ciclo deve continuar por mais uns cinco a dez anos, quando as águas dos córregos, dos poços e dos rios desaparecerão por completo e então será tarde demais. Isto acontece porque nos falta entender que a Terra é um sistema dinâmico, cujos elementos não estão superpostos, mas interagem formando complexos ecossistemas.

Dessa forma também funciona o Sistema do Cerrado, de cujo equilíbrio dependem as outras matrizes ambientais brasileiras. Aliás, nem sei porque ainda faço esta afirmação, pois já venho falando isto há mais de quarenta anos. O padrão pluviométrico do cerrado, já enfrentou diversos impactos naturais, como Glaciações, El Niño, Lá Niña, mas de modo geral, tem permanecido o mesmo por milhares de anos. Como prova desse quadro é a adaptação das plantas ao regime pluviométrico de duas estações definidas, uma seca outra chuvosa. Entretanto, a quantidade de água que hoje dispersa do cerrado vem diminuindo de forma significativa e irreversível pela ação do homem.

Uma dessas ações pode ser caracterizada pela retirada da cobertura vegetal nativa, impedindo dessa forma a retenção das águas pluviais nos lençóis subterrâneos, que são alimentadores de cursos d’águas superficiais. Outras ações se caracterizam pela captação das águas dos rios para irrigação em larga escala, a água dessa forma se perde pela evaporação. Outros fatores que provocam defluências do curso superficial principal em grandes proporções para canais longos e profundos, podem provocar de forma parcial ou irreversível o desaparecimento do corpo hídrico que os alimenta.

O fenômeno da urbanização que assola a contemporaneidade, com pavimentação que cobre grandes espaços, favorece o escoamento rápido das águas das chuvas, que por sua vez pouco infiltram no solo, provocando cheias ou enchentes que trazem como consequências transtornos urbanos e o mais grave ainda é que impulsionam as águas na direção da calha dos corpos hídricos que com o aumento da velocidade chegam mais rápido aos oceanos.

A retirada da cobertura vegetal natural acelera os processos erosivos, que por sua vez provocam os assoreamentos. Mas a parte da água continental mais afetada trazida pelas chuvas é aquela que forma o sistema de águas subterrâneas, que é um reservatório no ciclo hidrológico, que se localiza abaixo da linha do solo. A fonte imediata da água subterrânea é a precipitação que infiltra no solo em virtude de diversos fatores como porosidade e captação pelas raízes da plantas, embora a fonte imediata seja a precipitação a origem e destino final dessas águas são os oceanos.


Essas águas são depositadas num primeiro momento nas camadas superficiais do solo, formando o lençol freático, que uma vez saturado penetra lentamente até encontrar impermeabilidade, formando ao longo de muito tempo os lençóis profundos denominados de lençóis artesianos ou aquíferos. Os aquíferos do cerrado se localizam entre os poros de rochas sedimentares, mas também são encontrados nas galerias cársticas que foram delineadas pela história evolutiva do planeta. Seu deslocamento é lento, todavia, mais dias, menos dias, chegam aos oceanos, para iniciarem um novo ciclo hidrológico. Os aquíferos são responsáveis pelas nascentes que dão origem a maioria dos rios do cerrado. Sua existência está na dependência das águas precipitadas e de suas captações principalmente pelas vegetações de raízes profundas e de sistemas radiculares complexos. Se a vegetação for retirada ocorre considerável variação da quantidade de água contida nos aquíferos, o que pode culminar com seu desaparecimento, por isso não basta apenas olharmos para a atmosfera esperando as chuvas, temos que ser vigilantes com o que acontece ao nosso redor e lembrarmos mais uma vez, das reservas de água que ainda se encontram debaixo dos nossos pés, porque o dia que essas reservas desaparecerem, certamente surgirá uma situação de caos social, com consequências inimagináveis.


sábado, 28 de outubro de 2017

O ETERNO AMANTE DAS CORRENTEZAS E DOS REMANSOS

Dedicado a Louro-de-Manim

 Altair Sales Barbosa
Lá pras bandas da cidade de Correntina, Oeste da Bahia, vez em quando se ouve uma história que dizia que no remanso Cabeludo de Véia Lôra, onde o rio Correntina (das Éguas) descansa um pouco para tomar fôlego e seguir turbulento rumo ao Corrente, existe um local perto de uma gameleira onde foi enterrado um pote de barro todo lacrado, guardando dentro de si muitas virtudes. Dentre estas, diz-se que no pote se encontra a sabedoria, a bondade, a simplicidade e o amor pelo lugar, pela terra querida.
Quando menino, morando em Correntina, essa história recheava meus pensamentos e estimulava a busca pelo desconhecido, principalmente quando o vento noturno trazia para a cidade o som da cachoeira, que encantava nossos sonos.
Um belo dia, muito triste nas minhas lembranças, tive de deixar aquele local, pela vontade de meus pais e de meus avós maternos, para estudar num centro maior, e Goiânia era o destino mais fácil. Naquela época as estradas eram trilhas, feito serpentes que rastejavam pela belezura incomensurável das veredas. Não existiam pontes nos rios, e o velho pau-de-arara, fuçando feito um cão farejador, capengava em direção às nascentes, para contorná-las até estacionar em um ponto da capital de Goiás, após seis a oito dias de viagem.

Era fim de tarde, quando minha mãe, eu e meus dois irmãos, os demais ainda não tinham nascidos, e mais algumas dezenas de rostos, procurávamos um lugar aconchegante na carroceria do caminhão, entre os sacos de farinha, fardos de rapadura, toneis de cachaça e latas de querosene jacaré, que era usado para abastecer a condução durante o trajeto.
O caminhão também conhecido por chavriolé estava estacionado numa parte plana e alta, bem na entrada dos Gerais. Em sua volta, uma multidão de pessoas conversava e se despedia. Sentado num saco de farinha, pude ver meu pai, que não pôde acompanhar, pois ficara para cuidar de outros afazeres, e meus eternos colegas e infância. Lá no fundo eu sabia que jamais voltaria para morar naquele paraíso, nem brincar com meus amigos.
Quando o caminhão começou a serpentear pelo areião, ainda pude ver entre os meninos Louro-de-Manin. Naquele momento meu coração sofreu um apertume de saudade. Não sei depois o que aconteceu com minha vida, foi tudo muito rápido, como um sonho bonito, quando acordei, já era professor universitário, requisitado por muitas outras universidades da América, conhecido pelos meus artigos, em cantos da terra, que eu nem pensava existir. Mas nada disso tirou da minha lembrança a figura dos meus colegas amigos e do povo daquele lugar, muitos dos quais nunca mais vi.
O tempo foi passando como um graveto carregado pela correnteza das águas do Correntina e, um certo dia, eis que reencontro Louro-de-Manin. A alegria foi tão grande, que se juntassem as águas do Correntina e do Arrojado, ainda sobrariam cabaças vazias. Aos poucos, meu conhecimento sobre Louro, agora adulto, foi se avolumando; acompanhava de longe seu trabalho, suas ideias e não foi difícil descobrir que não é preciso estudar numa grande universidade para ser sábio. Logo percebi nas ideias expressas por Louro a essência da sabedoria. Foi então que me lembrei das sábias palavras de Clodomir Morais.
“... nos campos das ciências históricas e das artes, a existência social, armada de capacidade de observação e de percepção de certos fenômenos, permite, com a ajuda de práxis e de algum autodidatismo, que haja geração espontânea de escritores, jornalistas, sacerdotes, sociólogos, psicólogos, músicos causídicos, muitos deles tão eficientes quanto os profissionais saídos das Universidades”.

Aos poucos, minha convivência com Louro foi despertando os grandes mundos de suas particularidades. E eu, que achava que no mundo não existia ninguém que amasse Correntina mais que eu, descobri que essa pessoa existe, e se chama Louro-de-Manim.
Além de uma pessoa transparente, solidária, cordial e muito amorosa, Louro reúne sabedoria, humildade, paixão pela terra natal, amizade, companheirismo e tantas outras virtudes que se torna difícil para um vivente descrevê-las. Quando fala em Correntina, mesmo na bondade das críticas, deixa claro seu coração transbordando de amor. Chora e sorri, pela terra e pelo rio, como se ali fosse um umbigo do mundo, do qual a parteira Narinha nunca não cortou o cordão.

Portanto, digo a quem se interessar e puder, se tem alguém que em vida mereça uma grande homenagem ou uma forma de apoio para realizar os sábios sonhos escondidos por detrás de seus criativos e ambiciosos projetos, esta pessoa se chama Laurentino Neves (nome de batismo de Louro-de-Manim), que atravessou pontes e pinguelas na vida, para deixar Correntina no centro do mundo.

Ele nunca contou, mas, pelos seus atos, jeitos e trejeitos, acredito que tenha sido a pessoa que descobriu o pote lacrado e guardado na gameleira no Cabeludo da Véia Lôra. Espero que eu esteja certo, pois quando abrir o pote certamente sobrará para nós um pouco das virtudes nele guardadas, porque Louro sabe e sempre soube repartir.



sábado, 23 de setembro de 2017

ANTROPOCENO


Altair Sales Barbosa

De um tempo para cá, mais precisamente a partir da aurora do século XXI, teve início entre algumas pessoas que discutem as questões ambientais, um movimento para incluir mais uma época na escala geológica, denominada Antropoceno e que ocuparia na escala geológica o local após o Holoceno. Esta iniciativa e a criação desta nova época tem como objetivo caracterizar as modificações que o ser humano vem causando no planeta Terra, principalmente a partir da revolução industrial. Ninguém discute a magnitude das modificações causadas pelo homem dentro desse período. Todavia, qualquer modificação de ordem cosmológica, atmosférica ou geológica, provoca modificações muito mais amplas e de magnitudes maiores que todas aquelas causadas pelo homem em toda a sua breve história no planeta.

Por exemplo, uma erupção vulcânica de porte médio é capaz de lançar na atmosfera mais quantidade de CO2, que toda a queima de combustível fóssil já executada pelo homem, o deslocamento de placas tectônicas já tem provocado terremotos superiores às escalas de magnitude 8, causando transformações às vezes indescritíveis. Ilhas novas tem aparecido nos últimos tempos nos oceanos, sem a interferência humana, da mesma forma nos deltas dos rios, como consequência do transporte de sedimentos; Regimes climáticos diferenciados aparecem ciclicamente causando imensos transtornos na superfície da Terra, como consequência da ação de El Niño, La Niña, e outras alterações oriundas das correntes de convecção que circulam no manto da Terra, por debaixo da crosta, onde não existe a mínima possibilidade de intervenção humana.

Essa rápida introdução é simplesmente para ilustrar que a inclusão de uma nova época, baseada nas modificações causadas pelo homem, não tem sentido dentro de uma ampla escala geológica de temporalidade dos fenômenos, porque os parâmetros são diferenciados.

A escala do tempo geológico é o resultado de pesquisas que foram intensificadas no século XIX. Durante várias décadas de pesquisas os geólogos reuniram informações fragmentadas de numerosas exposições de rochas e puderam construir uma cronologia sequencial baseada nas mudanças da biota da Terra, através dos tempos. Com a descoberta da radioatividade, em 1895, associada ao desenvolvimento de várias técnicas de datação radiométrica, os pesquisadores puderam atribuir idades absolutas em anos e assim construíram uma escala geológica mais precisa.

A bússola, que orienta esse raciocínio, é o princípio do uniformitarismo, que se baseia na premissa de que os processos atuais tem-se operado através do tempo geológico.

O uniformitarismo não exclui acontecimentos súbitos ou catastróficos, tais como deslocamento das placas tectônicas, terremotos, tsunamis, vulcões, deslizamentos, inundações etc. mas chama a atenção para o fato de que para entender os acontecimentos passados torna-se necessário entender os processos atuais e seus resultados.

Outro importante ensinamento do uniformitarismo explicita que as velocidades e intensidades dos acontecimentos não obedecem padrões temporais regulares, mas, mesmo assim, as leis físicas e químicas da natureza tem permanecido as mesmas. A Terra é um planeta mutante e as forças que modelaram o passado são as mesmas que operam hoje.

Assim, de modo geral, desde que houve a formação das primeiras rochas no planeta Terra, a Geologia tem conseguido contar essa história, que na maioria das vezes, se nos apresenta de forma horizontal contínua, mas outras vezes as camadas geológicas se apresentam fragmentadas, dobradas e até cheias de intrusões. Mas o mais importante é que cada evento se nos apresenta como se fosse páginas de um livro as vezes intactas, rasgadas, ou dobradas. O especialista é capaz de ler o conteúdo destas páginas e, através dessa leitura, sequenciá-las e montar um grande livro que conta a história do Planeta. Os pesquisadores, geólogos, paleontólogos, físicos, químicos, geomorfologistas, e antropólogos dividiram este livro em grandes capítulos, aos quais deram o nome de Eras. Esses capítulos se subdividem em capítulos menores, que são denominados Períodos, que por sua vez se subdividem em capítulos menores, denominados Épocas, que também possuem divisões, mas que não iremos enfocá-las para não fugir do essencial.

Dessa forma, pode-se organizar os capítulos desse livro partindo dos mais antigos para os mais modernos ou, se preferir, a analogia partindo dos primeiros capítulos escritos até os que ainda estão sendo formatados.

O primeiro grande capitulo dessa história iniciou-se por volta de 4 bilhões e 600 milhões de anos e recebe o nome de Era Pré-Cambriana, que se divide em dois períodos: O primeiro, denominado Arqueozoico, dura até 3 bilhões e 500 milhões de anos passados, quando inicia o Proterozoico. Os guias que serviram de referência para a separação dos dois períodos foram o aparecimento da vida na forma de bactérias e alguns tipos específicos de rochas.

O Período Proterozoico vem até 600 milhões de anos, quando uma explosão de vida invertebrada, incluindo os trilobitas, se multiplica nos mares da Terra.

Nesse período começa a se formar o grande continente da Pangeia. A partir de 600 milhões de anos surge outro grande capitulo da história da Terra, denominado Era do Paleozoico. Essa Era se divide em capítulos menores denominados: Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero e Permiano. Cada um desses capítulos, denominados Períodos, tem suas peculiaridades. O Permiano, que é o mais recente dentro da Era do Paleozoico, se caracteriza pela fragmentação lenta do supercontinente Pangeia em dois grandes blocos, um ao norte de onde hoje se situa a linha do Equador, denominado Laurásia, outro ao sul denominado Gondwana. Caracteriza-se também pelo aparecimento dos primitivos répteis e pela formação da camada de Ozônio na atmosfera terrestre. O Período Permiano termina por volta de 220 milhões de anos, quando se tem início a Era do Mesozoico. Esta Era se caracteriza pelo extraordinário desenvolvimento da vida terrestre, principalmente os repteis. Está dividida em capítulos menores e, cada qual como os anteriores, possui suas peculiaridades. Estes capítulos são: Triássico, Jurássico e Cretáceo.

O Cretáceo termina por volta de 65 milhões de anos e é caracterizado na sua fase inferior pela fragmentação da Gondwana, que culmina na sua fase superior, com a cisão entre América do Sul e África; Na formação do Atlântico Sul e no aparecimento da cadeia Meso-Oceânica. Foi ainda no Cretáceo que se deu a extinção dos grandes répteis.

Após o Cretáceo, inicia-se o último capítulo da história geológica da Terra denominado Era do Cenozoico. Esta Era se caracteriza principalmente pela grande dispersão e diversificação dos mamíferos, oriundos da evolução de certas espécies de repteis.

A Era do Cenozoico, ou simplesmente Era Cenozoica, se divide em dois grande períodos. O primeiro denominado Terciário engloba capítulos menores denominados Épocas. A mais antiga é a Época do Paleoceno, seguida das Épocas Eoceno, Oligoceno, Mioceno e Plioceno. O Período Terciário se caracteriza por vários movimentos tectônicos e epirogenéticos. A Época do Plioceno termina há cerca de 2 milhões de anos, quando inicia o Período Quaternário. Este período engloba duas épocas, denominadas Pleistoceno e Holoceno. O Pleistoceno dura de 2 milhões de anos até 11 mil anos. É marcado por grandes eventos glaciais no Hemisfério Norte, pelo aparecimento do gênero Homo e por grandes mudanças climáticas e fisionômicas que afetaram os continentes. O final do período glacial há 11 mil anos, marca o início do Holoceno, época geológica que vivemos atualmente.

A história do homem na Terra é bem diferente, porque trata-se de um ser muito novo na escala evolutiva da vida. E de forma bem generalizada engloba dois capítulos: o capitulo da Pré-história e o capitulo da História.
O capitulo Pré-histórico inicia-se com o aparecimento do gênero Homo na Terra e se subdivide em capítulos menores denominados Paleolítico, Mesolítico e Neolítico.

O Paleolítico se subdivide em capítulos ainda menores, caracterizados por tipos de humanoides e pelas técnicas de lascamento de pedras. Assim temos o Paleolítico Inferior que inicia-se por volta de 2 milhões de anos e termina por volta de 800 mil anos e é caracterizado pela presença e domínio do Homo-habilis.  Em seguida vem o Paleolítico Médio que abrange o espaço de tempo situado entre 800 mil a 150 mil anos Antes do Presente e é caracterizado essencialmente pela presença marcante e irradiação do Homo-erectus. Após o Paleolítico Médio, vem o Paleolítico Superior, onde existe a ocorrência do Homo-sapiens primitivo até 40 mil anos, quando surge após esta data, o Homo-sapiens-sapiens. A partir de 10 mil anos o Homo-sapiens-sapiens introduz algumas mudanças nos hábitos e nos comportamentos do Homo-sapiens-sapiens do Paleolítico Superior. Isto decorre das mudanças climáticas provocadas pelo final da glaciação. É a partir de então que o homem passa a ser um grande consumidor de moluscos, formando grandes amontoados de conchas conhecidos como sambaquis. Este período da Pré-história dura de 10 mil a 8 mil anos Antes do Presente e recebe a denominação de Mesolítico.

Depois desta etapa o homem começa a domesticar os vegetais, dando origem a uma grande transformação no modo de viver de alguns seres humanos, que optam por esse caminho ou que tenham oportunidade de descobrir, aprender e utilizar essa tecnologia. Surgem os pequenos campos de cultivos e as aldeias. Este período pré-histórico é conhecido como Neolítico.

Após o Neolítico, as inovações tecnológicas acompanhadas de grandes transformações sociais foram muito aceleradas. E, a cada nova invenção, diminuía o tempo de novas transformações. Vieram a domesticação dos animais, a utilização dos metais fundidos, a invenção da escrita e outros inventos. E assim, a humanidade entra no seu Período Histórico, que alguns dividem em Idade Antiga, Media, Moderna e Contemporânea, embora seja difícil de precisar claramente as diferenças entre uma idade e outra.

Também é importante salientar que este raciocínio linear só se aplica a uma parcela da humanidade, notadamente a parcela que modelou o mundo ocidental. O que não significa que comunidades humanas que por oportunidades ou opções, escolheram modos de vida menos complexos, sejam inferiores.

A evolução cultural tem significado, por um lado, a organização do homem em grupos sociais que tem gerado problemas demográficos, problemas de saúde, problemas de educação, problemas institucionais etc. Por outro lado, a evolução cultural agregou, ao fluxo básico de energia, de informação e de circulação de matéria, o fluxo do dinheiro como resultado dos intercâmbios e das transações, gerando assim uma série de variáveis econômicas relacionadas com produção, capital, trabalho, comércio, indústria, consumo, níveis de preços, planificação de inversões, maximização de ganho, transferências de tecnologias etc. A utilização das diversas tecnologias originou diversas manufaturas, como: artesanato, instrumentos, maquinários etc. Como também deu origem a uma grande quantidade de ecossistemas artificiais, cidades, metrópoles, megalópoles, campos de cultivo, áreas de pastoreio, pastagens artificiais, represas, canais de regadio, rodovias, vias férreas, aeroportos, grandes usinas, complexos atômicos etc.

Embora o ser humano seja um elemento muito frágil em relação a Terra, tem sido ele o principal responsável pelo enorme prejuízo causado a outros seres vivos. Além disso, é evidente que o homem  danificou inúmeros ambientes e alguns ecossistemas da Terra de maneira irreversível, mas nada disso justifica a criação de uma nova época geológica, porque os parâmetros utilizados para essas avaliações se baseiam na escala temporal da vida humana e sempre raciocinando como se o homem fosse o centro de todo processo, sem levar em consideração o princípio de auto regulação da Terra.

Os defensores da criação de uma nova época, denominada por eles de Antropoceno, defendem que o início desta poderia muito bem se situar na revolução industrial, que então seria o marco para o início do Antropoceno. Na realidade o que mais caracteriza a sociedade moderna e que tem se caracterizado no grande paradigma da contemporaneidade é a dicotomia Homem-Natureza, ou seja a desnaturização do homem. Entretanto existem causas mais antigas e mais fortes que as produzidas pela revolução industrial, que tem impulsionado a desnaturização do homem. Uma dessas é, sem sombra de dúvida, o aparecimento da religião monoteísta, porque com o monoteísmo nasce a noção do individualismo que tem poderes para dialogar diretamente com a divindade, separando assim o eu do corpo e criando a noção de natureza humana e natureza externa. A partir de então, o homem se julga superior a todos os seres naturais. 






sábado, 26 de agosto de 2017

O MITO DO PORTAL DA SAPOPEMA



Altair Sales Barbosa

Sapopema é nome de uma raiz peculiar em virtude do tamanho e configuração. Essa raiz monumental desenvolve junto ao tronco de algumas árvores da família moraceae, que ocorrem nos ambientes ribeirinhos. A raiz chega a circular toda a planta atingindo até mais de 3 metros de altura, e se alarga junto ao solo, formando espécies de abrigos, capazes de alojarem em seus compartimentos uma família nuclear.

Existe a crença entre os indígenas e caboclos brasileiros, que entre essas raízes gingantes, situa-se o local onde dormem os curupiras.

Ainda narra a história que na árvore normalmente também designada sapopema, existe uma porta secreta, por onde as pessoas passam e entram numa outra dimensão, onde tem sonhos e visões delirantes que lhes mostram o passado e em alguns casos, até o futuro. Os sonhos permitem ainda aos que conseguem passar pelo portal, entrarem em contato com os parentes e amigos que já deixaram esse mundo.

O mito narra, que quando a pessoa retorna, mergulha num sono profundo e quando acorda se encontra muito disposta e entusiasta, para enfrentar o labuta do dia a dia.

Comentários:

Esse mito foi coletado pelo Prof. Altair Sales Barbosa na Serra dos Pacaás-Novos, junto aos índios Parintintin, durante os trabalhos de contato com os indígenas Urueu-Wau-Wau (1986). As viagens maravilhosas através do portal devem ser resultado do efeito de alguma bebida alucinógena. O local onde ocorre a sapopema é acolhedor e propício para essas pratica, muito comuns entre os povos indígenas do Brasil, grandes conhecedores dos segredos vegetais. 


sábado, 5 de agosto de 2017

O FUTURO DO PLANETA TERRA


Uma Pequena Reflexão

Altair Sales Barbosa

Para que se possa entender às questões ligadas ao futuro do Planeta Terra é pré-requisito compreender toda dinâmica que envolve a origem do próprio Universo.

Segundo os princípios da Filosofia Cósmica, que se fundamenta na Física Quântica, o universo teria originado a partir de um ponto que se tornou infinitamente quente e sólido ocasionando uma grande explosão que deu origem a vários fragmentos que entraram em processo de expansão. Entretanto, não há consenso entre os físicos e astrônomos quando mencionam este fato, se estão referindo ao Universo como um todo, ou apenas um fragmento deste, denominado Sistema Solar.

Uma explicação da origem do nosso sistema solar, associado ao material interestelar, situado num dos braços espirais da via láctea, afirma que o material entrou em colapso e foi condensado. O colapso gradual desse material associado à influência da gravidade, foi achatado e começou a rodar em sentido anti-horário.

A rotação e a concentração do material interestelar continuaram e deram origem ao Sol embrionário. A turbulência dessa nebulosa produziu redemoinhos localizados, onde o gás e as partículas sólidas se aglutinaram. O processo de aglutinação permitiu o acumulo de massas com partículas de diversas naturezas, chamadas planetesimais, que com o passar dos tempos se transformaram em corpos planetários. 

Por volta de 4 bilhões e 600 milhões de anos, uma grande quantidade de material reunido em um dos redemoinhos turbulentos, que girava em torno do recém formado Sol, deu origem ao Planeta Terra.
Da mesma forma, tendo ao centro o Sol, nebulosas gasosas se condensaram e deram origem a planetas de vários tamanhos, que juntamente com outros materiais começaram a girar em torno do Sol. Alguns planetas pequenos continuaram a incorporar materiais, que contribuíram para aumentar sua massas. Outros se colidiram e assim por diante. O processo não é tão simples.

No caso da Terra, toda vez que incorporava pequenos planetas e meteoritos, a energia da colisão se convertia em calor, formando um mar de magma. Por isso, uma bola de fogo corresponde a imagem da Terra em seus primórdios. Cada vez que havia impactos, minerais silicatados liberavam para o espaço, átomos de hidrogênio e oxigênio, que formavam moléculas H2O. No início essa água se apresentava na forma de vapor, depois houve condensação, mas a água no estado líquido, não conseguia chegar até a superfície da Terra, em função do alto nível de calor, que fazia a água evaporar. Entretanto, com o passar do tempo, houve um resfriamento que permitiu que a água da atmosfera se precipitasse sobre a Terra. Assim o planeta foi recoberto por um oceano primitivo que o circundava numa espessura média de 4 km.

A existência da água em estado líquido na superfície da Terra, possibilitou a formação de diversos tipos de rochas, cujos detalhes não cabe especificar neste artigo. Algumas dessas rochas em função da densidade, emergiram, formando as terras emersas, que depois viraram massas continentais com formas e composições variadas ao longo do tempo. Portanto, nos seus primórdios a Terra é comparada a uma bola de fogo, depois se transformou em bola de água. De lá para cá se passaram 4 bilhões e 300 milhões de anos.

É muito difícil fazer previsões. Entretanto tudo que tem um começo, um dia terá fim, pelo menos, dentro dos parâmetros que conhecemos. Não temos certeza porém se antes da grande explosão, que deu origem ao universo conhecido, já existisse algo.

Não sabemos também como os seres humanos evoluirão daqui para a frente, ou se serão extintos, por causas naturais ou por causas produzidas por eles mesmos. Casos como estes, que envolvem extinções, são corriqueiros na história evolutiva da Terra.
Sabemos que durante os bilhões de anos da sua história evolutiva, o Planeta mudou muito de configuração, já foi Pangéia, Gondwana, Laurásia. Possuía mares onde hoje existem montanhas de calcário, etc. Mais recentemente, áreas desérticas se transformaram em ambientes florestados e vice-versa etc, sem que o planeta deixasse de existir.

Sabemos também que os elementos radioativos existentes no interior da terra, que representam importantes fontes de calor. Um dia irão desaparecer ou exaurir-se. Desse modo a energia geotérmica, que movimenta o interior do Planeta, irá extinguir-se, fazendo com que o campo magnético também deixe de existir. Por repetidas erupções vulcânicas, a água existente no interior da Terra, será evaporada e decomposta, tornando-se gradualmente mais escassa.

O que se pode afirmar com base nos conhecimentos atuais é que daqui a 900 milhões de anos, a expansão do Sol poderá provocar o incremento do calor recebido pela Terra. Nesta situação, os oceanos irão evaporar totalmente. O Planeta inteiro será intemperizado e convertido numa estrela sem vida. Passados mais 5 bilhões de anos, o Sol transformar-se-á em uma estrela gigante que engolirá a Terra e todo o Sistema Solar. Portanto, se algum dia o Planeta Terra se extinguir, será por causas naturais, ou obedecendo a própria lógica da Filosofia Cósmica.



O homem com toda sua onipotência, jamais terá a capacidade de destruir a Terra enquanto planeta. O que ele pode fazer é alterar ecossistemas e nichos ecológicos, que modificam as paisagens e leva a vida à extinção, inclusive a própria sobrevivência do Homo-sapiens-sapiens.




A PEDRA FUNDAMENTAL DO MEMORIAL SERRA DA MESA



José Alves
Presidente da Fundação Serra da Mesa


2006...uma pedra fundamental foi afixada no solo marcando o início de um novo tempo. As velhas e imponentes árvores, com seus troncos retorcidos e belos, próprios do nosso rico cerrado, a que tudo assistiram, podem contar a história, e hoje, tenho muito tempo para ouvi-las, e elas querem falar! 
                   
Plantadas pelo Criador nesse lugar estratégico, viram todas as mudanças que em tão pouco tempo ocorreram. Passado e presente se encontram porém, não podem dar as mãos pois se distanciaram tanto... algumas cortadas, outras submersas, e outras viraram cinzas pelas queimadas. Assentado aqui, na entrada do Memorial, ouço-as gemendo e consigo entende-las contando tristemente a história  que presenciaram estando nesse mesmo lugar:  quando os primeiros habitantes, donos da terra que, por não terem  um papel que provassem a validade de seus direitos, tendo todavia o aval do Criador, foram expulsos; quando os rios cerceados de sua liberdade de trilhar seu caminho foi morrendo aos poucos, junto com toda pluralidade e  diversidade dos peixes e animais, aves e répteis que habitavam suas águas , rio que desaparece aos poucos como uma lágrima que seca ao escorrer pela minha face. Elas sentem falta dos animais que outrora corriam livremente, parindo suas crias e descansavam à sua sombra de galhos floridos e se alimentavam da doçura de seus frutos ímpares e tão desconhecidos ainda, tristemente os viram sendo guardados, mortos e mumificados, se transformando em peças do museu.

Sim...posso ouvi-las com seu canto triste narrando uma história passada e um presente doído sem perspectiva de futuro, enquanto o bicho homem não entender que ele morrerá na mesma velocidade com que destrói o que resta da natureza teremos que ouvir apenas lamentos dessas rainhas.

À porta do Memorial Serra da Mesa enquanto aguardo, as poucas pessoas que ainda amam essa riqueza que foi guardada com tanto amor e requinte, converso com elas... e vejo que se sentem bem quando alguém lhes dá atenção. Aqui, pelo menos, sabem que estão seguras e serão preservadas, portanto não correm o risco de desaparecerem no ar como pó.



sábado, 24 de junho de 2017

OS GEOGLIFOS DO ACRE


Altair Sales Barbosa

No atual estágio da Arqueologia Pré-histórica Brasileira, são conhecidos vários tipos de sítios arqueológicos, que de acordo com as características recebem classificações diferenciadas. Um sítio arqueológico refere-se a um local onde há vestígios de atividades humanas e, se classificam em Pré-históricos, Clássicos e Históricos.

De acordo com as características os sítios arqueológicos pré-históricos brasileiros, recebem denominações diferenciadas. Os principais são:

Sítios Cerâmicos, geralmente localizados em áreas abertas e quase sempre associados a grupos horticultores, que faziam grande uso de vasilhames cerâmicos na labuta cotidiana. Quando abandonavam o local deixavam a maior parte dos vasilhames na antiga moradia, pois além de frágeis, eram de transporte relativamente difícil. Com o intemperismo do tempo essas peças se fragmentavam dando origem a grandes concentrações de cacos de cerâmica;


Sítios Líticos, locais de antiga moradia onde não aparecem vestígios da utilização da cerâmica. Geralmente associa-se esses sítios a grupos com economia de caça e coleta; 







Sítios Líticos Oficinas, locais de exploração de matéria prima mineral, para confecção pelos indígenas de suas ferramentas, quer sejam lascadas ou polidas;



Sítios em Abrigo Sob Rocha, são locais com vestígios arqueológicos, localizados em grutas e abrigos e tanto podem conter material lítico ou cerâmico, como também outros grupos de vestígios tais como, restos de alimentos, sepultamentos, e sinalações rupestres.

Os Sítios com Sinalações Rupestres
, que estão sempre associados a outros materiais, são colocados numa categoria a parte porque às vezes são encontrados isoladamente. São caracterizados por pinturas com motivos variados e também com cores variadas. Os sítios com pinturas na sua maioria se localizam em abrigos. Dentro da grande categoria de sítios rupestres, podem ser incluídos os sítios com petroglifos que são inscrições rupestres, encontradas tanto em abrigos, como em blocos de rochas isolados, ou em lajedos de rocha dura, rente ao solo;


Sítios Sambaquis, são grandes amontoados de moluscos consumidos por populações pré-históricas, possuindo várias funções. Embora os sítios sambaquis sejam mais frequentes no litoral, também há vários registros de sua existência no interior do Brasil.





Para todas essas principais categorias de sítios arqueológicos a Arqueologia Brasileira tem hoje entendimento bem seguro para sua existência. Entretanto em 1977 o arqueólogo Ondemar Dias Junior, descobre no Acre, no vale do rio Purus algumas estruturas, até então desconhecidas na Arqueologia do Brasil, as quais atribui o nome de geoglifos e em 1988 Ondemar Dias e Eliana Carvalho, publicam o primeiro trabalho sobre o tema, atribuindo-lhes também a denominação valetas de terra.

Os geoglifos são grandes sinalizações feitas diretamente ao solo, principalmente em solo argiloso e sempre representam figuras geométricas, sendo em sua maioria, circulares ou quadradas. Consiste basicamente pela escavação de dois fossos ou valetas com profundidade que podem atingir até três metros.

Uma valeta é externa, protegida por uma espécie de mureta cuja terra é retirada da sua própria construção. A outra valeta ou fosso é interno e dista cerca de cinco metros da valeta externa. Ambas formam figuras geométricas, raramente vistas do nível do solo. No entorno das duas valetas, que formam figuras circulares, quadradas ou outras formas, são plantadas bem juntinhas fileiras de ananás, planta bromeliácea espinhenta, parente do abacaxi, que funciona como proteção, tanto para homens, como animais. O grande volume de terras retirado das valetas e acumulado simetricamente nas suas bordas, para quem observa do alto, forma-se um desenho geométrico em alto e baixo relevo.

Cada círculo ou quadrado geralmente possui uma área maior que 150 metros. A construção dessas estruturas podem estar associadas aos indígenas de línguas Jê-Pano, Karib, Kaxinawa, Aruak, que também chegaram a habitar a Bolívia e outras áreas da Amazônia brasileira.

Atualmente as pesquisas sobre os geoglifos tem motivado vários pesquisadores, cujos trabalhos tem-se resultados em dissertações e teses de doutorado.

As pesquisa também aumentaram em muito o registro dessas manifestações arqueológicas. Atualmente só para o Acre são conhecidas mais de 500 dessas configurações, é bom ressaltar que, não se restringem somente ao Acre, mas ocorrem também noutras áreas das terras altas da Amazônia e até fora do território brasileiro.

Descobriu-se também que há geoglifos que se unem por caminhos retos, as vezes formando figuras singulares. Entretanto, esses geoglifos não devem ser confundidos com aquelas figuras imensas que existem no norte do Chile e em Nasca no Peru, essas figuras são inscrições feitas no alto ou nas escarpas da Cordilheira e parecem indicar caminhos para orientação.

Também não podem ser considerados centro de adoração de influência cristã, porque o cristianismo só chega à região há cerca de 200 anos.



As primeiras escavações conduzidas pelo professor Ondemar na região de Xapuri no Acre, acusam idades situadas entre 2.000 a 2.500 anos A. P.  

Outro fator importante a salientar é que não se pode associar os geoglifos como centros cerimoniais de Impérios Civilizatórios, porque a civilização implica uma série de categorias sociais mais complexas. Na civilização existe poder centralizado com divisões de classes sociais, noção de propriedade privada, que o índio brasileiro felizmente não tem. O brasileiro tende a diminuir a importância da sociedade tribal mas a sociedade tribal é o tipo de sociedade mais equilibrada para o homem viver. Porque não há diferenças sociais. Felizmente não temos impérios pré-históricos no Brasil. É possível que os geoglifos tenham sido construídos com base numa orientação religiosa, mas não em função de uma aristocracia.

É bom ressaltar que com os avanços das pesquisa, principalmente pelo Museu Emílio Goelde, do Pará e pelas universidades de Rondônia e Acre. Além das formas comuns circulares e quadradas, descobriram-se também retângulos, hexágonos e octógonos com até 350 metros de diâmetro. E, em função do acumulo de terras férteis entre as valetas os arqueólogos vislumbram que os geoglifos foram, construídos para protegerem áreas de cultígenos associados a existência de ocas ou aldeias.
Esses monumentos arqueológicos, atualmente são considerados Patrimônios Culturais do Acre. 


                                                       Professor Dr. Ondemar Dias